terça-feira, 13 de dezembro de 2011

ROTINA

               A MORAL E O RESPEITO

               A moral e o respeito. Há quarenta e um anos atrás, (isso até parece o início de uma piada; mas não é nada disso: é exatamente um fato) minha família terminava de comemorar o meu décimo primeiro aniversário, sem nenhuma gota de bebida alcoólica, sem tabagismo e até mesmo sem dança! Apenas um bolinho com duas velas, representando a minha idade, através dos palavreados de parabéns, e isto não era porque o meu pai, não pudesse financiar a festa; é que a Vinte e Cinco de janeiro daquele mesmo ano, era um dia do meio de semana, o que nesse 1996, cognomina-se por dia útil.

Portanto, tinha-se que jantar, e dormir cedo! Para que seis horas da manhã seguinte, já estivéssemos entrando no roçado, há mais de uma légua-e-meia de distância; e todos nós só íamos descançar quando voltássemos novamente, às seis horas da tarde, ou sejam: dezoito horas da noite. Mais é que as crianças desde os tres anos de idade, até aproximadamente os quinze, não sabem poupar energias, e se esbaldam num momento desses; principalmente quando agente era criança - no Riacho do Mato. Interior de Nova Russas - Ceará... Naquele tempo as crianças eram mais saudáveis, inclusive os adultos, eram também um pouco mais equilibrados, não havia televisão, e até mesmo rádio,  ainda existia bem pouco e bem mais pouco eram os que possuiam esses aparelhos.

... Então, as pessoas eram muito mais decididas e honestas, naquela época, o 'Respeito'  'era a Chave de Ouro" do bem-estar social; era o tempo da bença e do bom-dia cumpade! Mas, voltando o assunto, devo dizer que eu era o mais velho da turma, e por isso pensei ter algum direito a mais como aniversariante, e ultrapassei o limite das ordens do meu pai; todas as crianças convidadas foram embora com as suas mães, inclusive as minhas irmãs: Izabel e Maria, tiveram que entrar em companhia da minha mãe, para que o meu pai e os outros homens ficassem conversando no terreiro, sobre os seus afazeres das roças e dos rebanhos... Todos eram velhos amigos e de famílias humildes, porém, honrados.

Eram mais ou menos Oito horas da noite, o que atualmente se escreve e chama de vinte horas, e lá estavam eles conversando sobre coisas que eu gostaria de participar, só que a minha mãe mandou as meninas irem dormir, e com certeza eu também estava no rol; mas, como em sua ordem, meu nome não foi enuciado, então, insistir em ficar debruçado na mesa da sala de jantar, e alí, assentado sobre uma cadeira quase adormecí; quando de repente ví minha mãe ir levando café para eles... Levantei-me e saí em sua companhia! Janjão, um velho vaqueiro de respeito, dono na sua própria fazenda, um senhor de seus quase cinquenta anos, e de muitos amigos, enfim, compadre do meu pai; esse, ao receber a xícara de café que a minha mãe os servia: Suspendeu a frente do seu chapéo-de-couro e disse: muito bem, seu BASIMBÓQUE! Quer dizer que voce já é um homem mesmo? De verdade! E depois tomou o café ainda muito quente, de apenas dois goles, e olhou novamente para mim que, estava ligado à saia de minha mãe e disse: Viu como é que um homem faz! Nisso larguei a saia da minha mãe e de costas, soquei-me entre os joêlhos do meu pai que, enfiando as mãos por debaixo dos meus braços, entrelassou-me o estômago, olhou para a minha mãe que já estava recolhendo as xícaras, e temperou a garganta como quem dizia: por que não fez esse menino dormir! Entendí que fosse realmente isso, o que ele quis dizer, e minha mãe o entendeu bem melhor do que eu; portanto, ao se arretirar com a bandeja de xícaras, acenou-me com um pequeno entortar de cabeça, convidando-me para entrar; entendí o seu gesto, mas, os dedos de meu pai se haviam cruzados em volta de mim, e não me deixaram sair. Tive que ficar alí, até que todos eles saissem, então, depois deles darem o boa-noite ao meu pai, e eu a bença, a cada um deles; pensei também a bênção de meu pai, e ir dormir! Mas, foi engano... Ele levantou-se da cadeira que estava sentado, e mandou que eu me sentasse nela, e eu sentei-me; então, ele começou a carregar as cadeiras para dentro de casa, e eu quís ajudá-lo, mas ele disse: Não senhor, fique assentado aí, e eu tornei sentar-me; e quando já só restava uma cadeira vazia, ele veio lá de dentro e sentou-se frente à frente comigo, e começou me dizendo assim: Filho, escute o que vou lhe dizer, e nunca tente fazer o contrário do que eu lhe disser... Quando agente nasce, até a idade de aproximadamente sete anos, vive-se constantemente sob os cuidados do pleno poder de nossos pais, e em especial nossas mães: obedecendo e os honrando pelos seus afagos e ensinamentos, especialmente os ensinamentos.