quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

REZAÇÃO PARA ESQUECER

Ai de nós
se a sanidade do mundo
calar a sua voz nesse amanhecer
Esse não é o momento
nem a melhor maneira de esquecer
como se deve relatar os crimes

Mas não quero ser apenas
um desses relatores
- gostaria de ser um fenômeno
uma antiguidade pensante
Há quem me dera ser um alquimista
daqueles que já em plena realização
não pede sigilo
porque ele mesmo
é o sigilo maior

Então quisera eu
ser além do fim
- esconder-me na vida
e nas profundezas dos mares
- olhar os confins
e subir à tona para observar o céu
contar as estrelas
e reuní-las num adeus somente
ah quem me dera
ser eternamente eterno

Ei companheiro
desperta irmão!
Calma
que só as nossas almas podem ser assim
quem sabe o pai nosso
entre todo esse tempo
não o tenha reservado
para esse dom

Tenha calma
porque só os nossos nomes
têm a mesma igualdade
mas
como só se pode falar nesse mesmo tom
mais um procedimento se abre
ao seu favor

Despe desse maldito estômago
esse terrível desejo de beber sangue
porque na verdade
foi esse o mesmo de Drácon
ao legislar em Atenas
- Ser eterno sim
mas não para contar estrelas
ou observar o céu
porque os seus olhos
só podiam ver a morte

... E a passagem da vida
é especialmente branca
Não há luz negra em seu caminho
a menos que o espírito de Drácon
se atravesse como andarilho

A passagem do espírito
já se fechou na cicatriz dos povos
e o tempo se modernizou
na interferência
na tela
e no médium
aonde sempre se comunica
com a voz do homem
ou de mulher
- desfazendo-se
e se refazendo em átomos
e eletrons
- formando moléculas

Todos os sons são de energia-viva
corpos mutantes
na evolução inalcançável
admiração expontânea dos paranormais
Salve ó fonte energética
de longo alcance
- Receptor esotérico de quem já se foi
filhos de chapadão que comeram maçãs
mas nem por isso
quiseram vingar a morte
e se há pacifismo
por que não unir a terra
num silêncio de pedra!
Ou num alvorosso fenomenal
de todos os mares

Não se pode ver a luz
quando se deseja ver tudo
porque a cegueira da salvação
vai aboletar-se sobre os vossos olhos
porque nem tudo
se deve saber.


RETROCESSO PSICANALÍTICO

A sujeira na mente
é um ser químicamente vivo
e por isso
não fica tão distante de Freud
que acreditava medir e pesar
todas as reviravoltas
da mente humana
para encontrar a razão
de qualquer que fosse
o sistema de anormalidade

Não era fácil ser juiz
de sua própria vítima
e absolvê-la do crime
ou da inocência
que possívelmente encontrasse
na verdade
não era tão fácil

Mas também não era tão difícil
ver as mesmas fibras
de quem tinha a culpa
na infeliz matéria
de quem possuia apenas o perdão 

Culpas e perdões
são as principais enfermidades
da mente humana
e sòmente a consciência
é capaz de revelá-las

Portanto
o crime não pode culpar o perdão
por às vezes o perdão
não poder perdoar o crime
Pois a própria mão que
bruscamente o praticou
antes da sentença
pode também gentilmente anistiá-lo

Nesse inevitável caso
já não gostaria
de ser um mero alquimista
e que o perdão
sirva-me de remédio 
na cura da minha insanidade
que na verdade entre tudo isso
óbviamente não é o tédio

Talvez lá um outro dia
o meu próprio veneno me assinale o fim
então
a ninguém queixarei a minha sorte
- Comprimentarei
e hospedarei a minha própria morte
para que se possa negociar à noite

... mas se tudo isso
não passar de um desejo nobre
não vou permitir ser necropsiado
nem tampouco vou aceitar autópsia
então
não a expulsarei para longe
porque bem próximo a mim
vão permanecer os meus inimigos
e nenhuma outra surpresa
quero ter
ao atravessar a rua.