quarta-feira, 4 de maio de 2022

AQUARIANO SOBRE OS INFERNOS

             (Poema Único)

Alar-me-ei
e sobre as chamas

Sobrevoarei os céus
ilhas e desertos
que acenam-me
desde a mais baixa terra
ao pico do mais alto monte

De lá - ví cá
as poluições da Fonte
que devia ser eterna
mais não é

E como um condor
alo-me mais e mais
temo tocar o fêbo
e provocar a ira de Deus

Malditas as confissões que
afirmam o que não sabem
nem tudo no céu
é terno e doce
como os profetas dizem

Lá e cá
são interligados a tudo
até mesmo a mim
que sem vida
sou simplesmente nada
além da terra que sou

O tempo
se apresenta nas pedras
e eu escavoco o chão pra vê-lo
- tento me encontrar no berço
por onde os mares dormiram
- Mais tem sido em vão

Só os vernes se alimentam do pó
mesmo assim
necessitam de vida
inda que seja arrancada do lodo                                                   como faz a serpente

De todas as nações
só se ouve o gemido da terra
lágrimas e clamores indecifráveis
sangue que se confunde
nos registros da morte                                                           fatalidade sem óbito correto

E isto - é o fim de um
e o princípio de outro
É a liberdade se algemando
na sua própria mansão
assim como o santo
à sua inevitável cruz

Pairo sobre os mares
e vejo em cada kenio
erros e acertos
em acirrada disputa de licitação

Lá estão os corais parindo vidas
no terno leito
da maternidade eterna
sem imaginarem
que a qualquer momento
as tetônicas poderão liquidá-las

Assim como eu
muitos outros cantam
esse mesmo lamento
só lamento não saberem
a densidade dos corpos

Sou um aquário
desprovido de alevinos
e como um peixe sem aquário
me revezo na imensidão dos povos
- Segredo que a massa não revela
mas sente no seu passo a passo

Espaço
desgastado e triste
no silêncio de cada giro
- Obra bilenária
que a matemática desconhece

É como se a chama
se escondesse nas profundezas
por obediência e fé
aguardando o momento
para a cremação final.

 

Pelas nossas mãos
passam as espadas e as suas dores
espinhos e lágrimas
escorrem por entre nossos dedos
e em cada olhar se desenha uma rosa
sem pétalas
e sem perfume de flores

Dentre todas as montanhas
só a do sermão se eternizou
muitos homens viveram
sem medir o limite
e nem todos
foram para as escrituras

Mas a minha passagem
é longa
e o infinito
me leva muito além

Sou rígido - tanto quanto a rocha
sobrevivo a tempestade dos tempos
embora tragando o fumo
cuspido pelos velhos vulcões
cinzas que viraram pó
coisas que não tem nada aver

Suspenso no ar
contemplo o tempo
e vejo as nuvens passando
                                                                                                     - solenemente
sobre a muralha chinesa


- Como se elas carregassem
do meu próprio estômago
todos os dragões
que me cuspiram fogo

E lá se foi
a metade dos meus propósitos
- Uns chegam e saem
trazendo e levando
diversas informações
que só uma grande amizade
é capaz de recambiá-las

Agradeço ao Senhor dos exércitos
pela minha república
e a liberdade do meu espaço
sinto-me senhor dos meus erros
e escravo ou servo Dele mesmo
- mas sempre esperando
que o primeiro Senhor
faça-me reverter as inocências
porque ser aquariano
é ser lícito.

 

Poeta: Manoel Messias Santos ‘o pensador’

Nota do AUTOR: Infernos.

MITOLOGIA

Local subterrâneo,                                                                                           habitado pelos mortos (tb. us. no pl.).

.

RELIGIÃO                                                                                                                                               Para os cristãos, lugar em que as almas pecadoras                                                                                            se encontram após a morte,                                                                                                            pra serem submetidas às penas eternas.