terça-feira, 6 de outubro de 2015




            A GESTA DAS MATRIARCAS EM ISRAEL

Ao escolher para tema de ensaio Israel no tempo dos Patriarcas, do chamado Mundo Pré-clássico, tinha em vista debruçar-me sobre a ação das suas respectivas mulheres: Sara, Rebeca e Raquel. Sempre me fascinou a leitura dessas narrativas e chegava sempre à mesma conclusão: estes patriarcas são muito pouco patriarcais. As suas mulheres é que decidem e lhes indicam o que devem fazer. Não seria mais adequado chamar também, a esse tempo, o tempo das matriarcas?

Tentarei mostrar o papel fundamental das mulheres – destas mulheres – nas “narrativas de origem” do Povo de Israel: o Tempo da Promessa. Antes, porém, convém apontar os conceitos de História e de Teologia narrativa, como pressupostos de leitura.

PRESSUPOSTOS
As Escrituras na Bíblia, nomeadamente, no Pentateuco – conjunto dos primeiros cinco livros: Génesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio – oferece um quadro de história completamente delineado pela fé e, por isso, de índole confessional.

O modo como a fé entende os acontecimentos históricos tem características próprias: uma grande parte destas tradições de Israel devem ser consideradas poesias, sendo, assim, produto de uma clara intenção artística. No entanto, para os povos antigos, a poesia é muito mais do que um simples jogo estético: é a expressão de um desejo insaciável de conhecer os acontecimentos históricos e naturais do mundo circundante. Só a poesia se prestava a falar das experiências da história do povo de forma a atualizar, plenamente, o seu passado.
Até ao séc. VI a.C., não se podia prescindir da poesia na concepção de história. A fé (não só a fé de Israel) precisa dela porque, nestes materiais da tradição, não é possível desligar o acontecimento histórico da interpretação teológica que os atravessa em todos os sentidos.
No caso de Israel, este tipo de narrações tem uma relação indireta com a realidade histórica, tendo, no entanto, um contato muito imediato com as verdades da fé israelita. Os acontecimentos para a salvação eram atuais em todas e para todas as gerações futuras com uma atualidade indiscutível que, hoje, é difícil explicar com exatidão.
Como disse Georg Fohrer, «o Antigo Testamento não procura apresentar objetivamente a história, pois os fatos históricos como tais representariam apenas insignificantes abstrações para os israelitas. Tais relatos constituem muito mais o fundamento de uma interpretação religiosa e teológica, ligando-se a ela. O fato histórico e a sua interpretação estão indissoluvelmente ligados e dependentes entre si.
Na realidade, a história não é narrada por si mesma, mas pela interpretação religiosa e teológica do relato».
É histórico determinado evento que se torna problemático concretizar e se encontra na obscura origem da tradição respectiva. Porém, também é histórica a experiência de que YHWH transforma a maldição do inimigo em bênção e mantém a sua promessa apesar das faltas do destinatário.
Como também disse W. Dilthey, «a poesia não é a cópia de uma realidade preexistente...; a arte é uma força capaz de produzir um conteúdo que transcende a realidade e não pode traduzir-se em ideias abstratas; é um poder que cria uma nova visão do mundo».
Posto isto, constatamos a dificuldade em distinguir, através dos conceitos atuais de história e de teologia, onde termina uma e começa a outra. Pelo contrário, estão de tal maneira entretecidas que, facilmente, tomamos uma pela outra

A meu ver, o importante é ter sempre presente, ou que estamos perante um tecido feito com fios de história e com fios de teologia.
Nestas narrativas – Gênesis 12-35 – podemos ler as origens de um povo e da sua fé. A história deste povo é inaugurada com um homem que acredita, assim como a sua família, no Deus que aceita ser chamado “seu Deus” e que permanecerá o “Deus de Abraão”, mesmo quando a sociedade e o pensamento de Israel se encontrarem já muito afastados destas imagens arcaicas.
Portanto, ainda hoje, somos convidados a ler, nestes começos inacessíveis, a nossa própria origem, o início do devir para todos os que se põem a caminho porque ouvem um apelo de Deus. É por isso que só um leitor que se sinta implicado nestas narrativas é capaz de atingir o seu verdadeiro sentido.

TEMPO DA PROMESSA: Gênesis 12-25.
Uma terra, uma aliança, uma posteridade

Hoje em dia, os exegetas situam a redação destes capítulos das Escrituras na Bíblia, bastante tardiamente, por volta dos séc
s. VI e V a.C.. Pelo seu contexto literário e pela sua configuração, consideram-na posterior à historiografia deuteronomista.
Como já foi esboçada, em termos de narrativa bíblica, a origem do povo de Israel assenta na “história” de um homem – Abraão – que obedece à ordem de Deus (YHWH) para sair da sua terra, pois acredita que a Promessa feita no seguimento dessa ordem será cumprida:
- promessa de paternidade de um povo (12,2)
- promessa de uma nova relação com Deus (aliança/bênção: 12,3)
- promessa de uma terra dada à sua descendência (12,7).
Esta Promessa tridimensional é o arcabouço que suporta e unifica todo o material da tradição reunido nestas grandes composições narrativas.
A Promessa faz da época dita patriarcal a instituição destinada a preparar, cuidadosamente, o nascimento e a vida do povo de Deus.
Vejamos como fica isto em Israel.
Vamos, então, tentar ver como as suas mulheres amadas assumiram a fé na Promessa.

Para tal, seguirei a sequência dos capítulos 12-35: Sara/Abraão, Rebeca/Isaac e Raquel/Jacó.        (Israel).

A. SARA, Gênesis 12-23

Sara é apresentada como uma mulher muito bonita e Abraão tem consciência disso, o que o leva, por duas vezes (12, 11-13; 20, 1-13), a pedir-lhe que se faça passar por sua irmã. E isto porque teme pela sua vida, sabendo os outros que era sua mulher. Sara aceita, sem reservas, ser a garantia da sobrevivência do seu marido.
Estará ela de tal maneira possuída pela fé na Promessa que não hesita em ser o escudo do eleito de Deus?
O certo é que não só lhe salvou a vida como foi causa do seu enriquecimento material, podendo, assim, voltar para a terra que Deus lhe indicara (12; 16. e 20; 14).
A fé de Abraão não visa o seu presente, mas uma realidade futura. No entanto, para que haja futuro, é imprescindível que algo aconteça já. Algo que demora a chegar: um filho.

Sara é estéril e Abraão nada faz senão questionar (YHWH) Deus (15, 2, 5) e esperar.
É ela que toma a iniciativa de “apressar” o cumprimento da promessa de uma descendência: Vê, eu te peço: (YHWH) Deus não permitiu que eu desse à luz. Toma, pois, a minha serva. Talvez, por ela, eu venha a ter filhos. E Abraão ouviu a voz de Sara (16, 1-4).
Perante a sobranceria da serva grávida, Sara sente-se humilhada, acusa o marido pela injúria de que é alvo e convoca Deus (YHWH) como juiz entre eles (16,5). Abraão dá-lhe liberdade absoluta para fazer o que bem entender. Sara de mais nada precisa: maltrata a serva a ponto de a “obrigar” a fugir (16, 6), embora regresse mais tarde.
Entretanto, Deus (YHWH) reforça a Promessa, a promessa de fazer de Abraão o pai de uma multidão, o destinatário da aliança e da sua descendência o possuidor da terra que habita (17, 1-14). Sara é envolvida, explicitamente, neste reforço. Deus (YHWH) muda-lhe o nome – como já tinha feito a Abraão (17, 5) – pois chamava-se Sarai. Abençoa-a e renova, mais uma vez, a Promessa a partir dela: dela te darei um filho... ela se tornará nações... dela sairão reis e povos (17; 15,16).

Este envolvimento só podia provocar riso, pois Deus (YHWH) estava a revelar-se como um Deus cheio de humor: um homem velho, uma mulher velha, conceberem? Só podia ser brincadeira. 
Aliás, Sara tem a mesma reação quando se apercebe, também, como alvo de eleição, como destinatária e veículo da Promessa. Desta vez, para cúmulo, o seu cumprimento não é apresentado num futuro indeterminado, mas em data marcada: no próximo ano (18; 9,15).
Brincadeira à parte, a promessa cumpriu-se no tempo previsto: Deus (YHWH) visitou Sara, como dissera, e fez por ela como prometera. Sara concebeu e deu à luz um filho a Abraão já velho, no tempo que Deus tinha marcado... Isaac (21; 1,3).
Ao ver crescer seu filho juntamente com o da sua serva, novos receios a invadem. Serão os dois herdeiros da Promessa? Mas só ela e não a serva foi abençoada e escolhida para dar início à sua realização. Não pode ficar de braços cruzados. Vê, apenas, uma solução: expulsar a serva com o filho.
Em Sara, a ação acompanhava sempre o pensamento e isto mesmo pediu a Abraão que ficou muito infeliz (21, 8-11). Deus (YHWH), no entanto, tranquilizou-o, pois o que parecia, à primeira vista, uma desgraça não o era.

Sara tinha razão. Ele não tinha mais do que fazer tudo o que ela lhe pedisse porque ela via para além dos acontecimentos (21; 12,14).
Sara volta a ser referida por ocasião da sua morte (23, 1, 2, 19) e uma última vez, depois de Isaac ter amado Rebeca. Este amor consolou-o da morte de sua mãe (24; 67).
Não há dúvida que os narradores destes textos não estão interessados na fé de Sara, mas tão só na de Abraão (por exemplo, em Gênesis 22 – um texto fundamental para provar a fé de Abraão – Sara não é tida nem achada).
Porém, o seu marido reconhece a autoridade dela sobre a situação em várias ocasiões como foi apontado.

REBECA Gênesis 24-28
Embora Isaac seja o herdeiro das grandes promessas de Deus a Abraão e à sua posteridade (17,91-21), a sua história é breve e parca de acontecimentos exteriores. Podemos, pois, considerá-lo como “figura de transição” a quem pertence a responsabilidade de transmitir a Promessa.

Uma leitura apressada da brevíssima descrição a seu respeito pode levar a pensar que se trata de uma personalidade passiva, visto que foram sempre os outros a decidir no que lhe diz respeito (sacrifício, pedido de casamento, engano na transmissão da bênção...). Esta conclusão é, também, facilitada pela personalidade enérgica da sua mulher, Rebeca.
De fato, Rebeca é a atriz principal desde o primeiro momento. Mesmo antes de ser conhecida, na preparação do plano de casamento de Isaac, é-lhe atribuído o poder de decisão de abandonar ou não a casa de seu pai (24, 5-8. 39-41), enquanto ele é esquecido completamente: ninguém se preocupa em saber o que pensa ou o que pretende.
Depois de ser reconhecida como a “indicada” por Deus (24, 11-21. 42-48), toma a iniciativa de providenciar pousada em sua casa, sem saber de quem se trata (24, 23-27).
Perante o motivo que trouxera aquele estranho, o “chefe de família”, irmão de Rebeca, aceita o pedido de casamento, mas reclama um tempo de espera. Face à urgência do regresso e, consequentemente, à recusa desse tempo de espera, remetem para ela a decisão final. Rebeca não hesita em partir imediatamente e ninguém interfere (24, 56-61).

Para além da capacidade de iniciativa, de ação, Rebeca tinha mais duas marcas que a tornam muito semelhante a Sara: era muito bonita e estéril.
A beleza levou-a a sentir na pele a mesma experiência de Sara: passou por irmã de seu marido, pelas mesmas razões, que também assumiu pessoalmente, e com as mesmas consequências (26, 7-13).
Na esterilidade não teve de recorrer às escravas porque Isaac implorou por ela a Deus (YHWH) e foi ouvido. Rebeca ficou grávida (25, 20-21).
Porém, a sua gravidez não foi normal. Sentia algo estranho dentro dela que, num primeiro momento, a levou a desejar a morte (25, 22a). Mas depressa ultrapassa a angústia e virou-se para Deus (YHWH), consultando-o (25, 22b). Uma vez mais Deus (YHWH) atendeu e mostrou-lhe o que estava a acontecer. Revelou-lhe os seus insondáveis desígnios, o que ela assumiu sem reservas: Isaac preferia Esaú (o primeiro)... mas Rebeca preferia Jacó (25, 23-28).
Ao sentir a morte a aproximar-se, Isaac chamou Isaú, seu filho mais velho, e pediu-lhe uma boa refeição com o produto da caça para, em seguida, o abençoar.

Rebeca sempre atenta, sempre no lugar certo e na hora oportuna, ouviu as intenções de seu marido (27, 1-5).
As “revelações” que recebera durante a gravidez nunca tinham caído no esquecimento e, agora, ganharam sentido. Chegara o momento de perceber que o seu cumprimento passava por ela. Não perde tempo. Chama, imediatamente, Jacob, conta-lhe as intenções do pai e traça um plano de ação para que este se antecipe ao seu irmão a fim de receber a bênção que lhe estava destinada (27, 6-10).
Perante os receios de Jacob, a mãe assume, pessoalmente, todas as maldições, no caso de existirem, e executam o plano traçado (27,11-71).
Tudo correu como o previsto e Isaac, apesar da emoção forte, não mostrou grande pesar ao constatar o engano: o que fiz está feito, não posso voltar atrás (27, 30-40).
Não aconteceu o mesmo com o irmão que procurou vingar-se. Ao saber disto, Rebeca toma, de novo, o comando da situação, planeando a fuga com o estratagema do casamento (27, 41).
Isaac não descobre os verdadeiros receios de sua mulher e aceita, plenamente, a sua versão, dando ordens a Jacó nessa mesma linha, tal como Rebeca esperava, isto é, a mãe transforma a fuga de Jacó em cumprimento da ordem de seu pai (28; 1, 5).
Rebeca termina, assim, as suas funções de matriarca, obtendo a bênção para o seu preferido e salvando-lhe a vida, garantindo que a Promessa feita a Abraão se perpetuasse.

RAQUEL Gênesis 29; 35.
A vida de Jacó poderia, facilmente, ser incluída no género literário “Aventura”. Tem de fugir à ameaça de vingança do seu irmão Esaú; compromete-se a trabalhar sete anos para poder casar com a jovem amada (Raquel); é enganado pelo sogro que lhe dá a mais velha e, para não renunciar à desejada, terá de trabalhar mais sete anos; luta com Deus e, finalmente, regressa à sua terra através de nova fuga. É uma “história” de fraudes, mas também a do homem que se sente protegido por Deus (28; 10) e que, por sua vez, se ocupa de Deus, lutando com Ele para ser abençoado. Luta que o ligou de tal modo e para sempre, a Deus, a si próprio e ao povo a quem deu o nome que Deus lhe dera: Israel (32; 22).

Apesar de tudo isto ou por causa de tudo isto, percebe-se que estamos perante um homem profundamente crente, cuja oração é de grande valor teológico, que nunca tinha sido atingido. Além do valor teológico, esta oração é como que o ponto aglutinador das “histórias” dos três patriarcas: Abraão, Isac e Jacó (32, 01-13) (10).
Raquel é a sua amada por excelência, desde a primeira hora. No entanto, tem de pagar um alto preço para fazer dela sua mulher: é ludibriado e obrigado a dobrar o tempo de contrato (29, 18-30).
Como as suas “antecessoras”, é estéril. A sua estratégia é semelhante à de Sara, começando por dar a sua serva a Jacó para deles obter filhos (30, 1-8), passando pelo ato de pagar a sua irmã Lia para conceber mais um filho em seu nome (30, 14-15). Por fim, Deus (YHWH) lembrou-se de Raquel: ele ouviu-a e tornou-a fecunda. Deu à luz José por meio do qual dizia: Deus retirou a minha vergonha... e que Deus (YHWH) me dê outro (30, 22-24).
Quando Jacó percebe que é alvo de invejas e ódios, decide fugir, depois de ouvir o Anjo de Deus (31, 11-12) e confia o seu plano a Raquel e Lia que o assumem, porque percebem que está de acordo com a Promessa de Deus (YHWH) (31, 1-18). 

Raquel, porém, antes de sair de casa de seu pai, rouba-lhe os “deuses domésticos”. Embora o texto bíblico seja muito lacónico, a literatura rabínica é vasta na interpretação deste episódio.
São cinco os versículos que relatam o sucedido: Raquel roubou os ídolos domésticos que pertenciam ao seu pai (31, 19); Labão pergunta a Jacó, por que roubaste os meus deuses? (31, 30); Jacó ignorava que Raquel os tivesse roubado (31, 32); Raquel tomara os ídolos domésticos, pusera-os na sela do camelo e sentara-se por cima (31, 34); Labão procurou e não encontrou os ídolos (31, 35).
Inclino-me para a interpretação, segundo a qual, Raquel já tinha percebido que não tinham valor perante Deus (YHWH), o “Deus dos pais” de Jacó e, por isso, quis ajudar Labão a desligar-se da idolatria, da feitiçaria e da magia. Quando aceita a saída da sua terra tem consciência que estão a obedecer à ordem de Deus (YHWH) (31, 16).
Por outro lado, também faz sentido, para mim, que Raquel, mais audaciosa que Lia, roubasse o que lhe pertencia por direito – mesmo já não tendo valor religioso – dado que seu pai as tratava como estrangeiras (31, 15) e os terá fim deviam ser transmitidos ao herdeiro, segundo o costume.
Seja qual for a interpretação, não há dúvida que se trata de um gesto arrojado e consciente.
Raquel é referida pela última vez no momento em que, simultaneamente, dá à luz o seu segundo filho e morre (35, 16-20).

GESTÃO DAS MATRIARCAS?

Se as Matriarcas souberam tornar-se disponíveis, vigilantes, à voz de Deus que apela à ruptura, então, a Promessa, longe de ser apanágio dos homens, sob o cuidado e o dever, exclusivamente, masculinos, está ligada, em cada etapa da sua realização, à sublimidade do casal humano, à esperança da santidade de ambos.
Graças às suas Matriarcas, Israel chega a ser um povo numeroso e abençoado. Sara assegura a herança de Isac em face à ameaça de Ismael. Rebeca torna possível que Jacó obtenha a bênção. Raquel, rivalizando com Lia para darem filhos a Jacó, edifica a casa de Israel.

Para além de todas elas serem as esposas amadas e mulheres ativas que assumem a condução da família, muitas vezes sobrepondo-se aos maridos, têm ainda uma outra característica comum: são estéreis.
Nas narrativas de origem é fundamental que a fecundidade esteja ligada à divindade. Os descendentes, os destinatários da Promessa, não podem ser engendrados pela simples vontade humana. É necessária a ação direta de Deus. Ora, é preciso que a mulher seja reconhecida como estéril – uma vida a tentar conceber – para se perceber, existencialmente, que só o poder divino seria capaz de fazer nascer o filho da Promessa.
Sara morreu de velhice; da morte de Rebeca nada é dito; a morte de Raquel não poderá ligar-se à esperança de uma unificação dos filhos de Jacob/Israel, visto que aconteceu, precisamente, no parto do décimo segundo filho, completando, assim, as doze tribos de Israel?

Conclusão
A gesta patriarcal/matriarcal conta os caminhos imprevisíveis e desconcertantes dos antigos com a sua parte de sombra e luz. É feita de tudo o que pode acontecer entre o nascimento e a morte: amores, casamentos, invejas e ódios entre irmãos, fraudes...
Se estas narrativas falam aos crentes não é, apenas, por causa da humanidade que os habita. No conjunto formado pelo Pentateuco, têm a originalidade de pôr em cena personagens singulares e de contar experiências individuais de crentes, homens e mulheres. Sara/Abraão, Rebeca/Isaac e Raquel/Jacob(Israel) vivem experiências humanas e religiosas que podem servir de referência a cada um dos crentes. Por isso, as suas vidas, como objeto de escrita, surgem numa época bastante tardia e como narrativas são remetidas para a origem de um Povo que nasce da fé sem Lei, (embora se organize como povo a partir da lei sinaítica); de um Povo que, antes de ter uma lei, se apoia em Deus (YHWH). Em hebraico, crer, ter fé, significa apoiar-se, fiar-se.



Irmão messias





                                             



ENOQUE   (antepassado de Noé)
Fonte:  Wikipédia.

Enoque – חנוך, Chanoch ou Hanokh – é o nome dado a uma das personagens bíblicas mais peculiares e misteriosas das Escrituras. Nasceu, segundo os escritos judeus, na sétima geração depois de Adão, sendo filho de Jarede, e pai de uma outra personagem, Matusalém.
De acordo com a tradição escrita hebraica denominada Tanakh, relatada em Gênesis, capítulo 5, versos 22-24, Enoque teria sido arrebatado por Deus para que não experimentasse a morte e na certa fosse poupado da ira do dilúvio:
E andou Enoque com Deus, depois que gerou a Matusalém, trezentos anos, e gerou filhos e filhas. E foram todos os dias de Enoque trezentos e sessenta e cinco anos. E andou Enoque com Deus; e não apareceu mais, porquanto Deus para si o tomou.
Há dois aspectos extraordinários no relato de Enoque, enfocados nesses versículos, que não foram enfocados em outras gerações: as indicações do texto de que ele “andou com Deus” e o fato que, supostamente, ele não teria morrido, pois “Deus para si o tomou”. Estes relatos foram a origem de muitas fábulas, lendas emidrashim (estudos rabínicos mais aprofundados) de sábios judeus ao longo de séculos. Muitos deles se incomodaram muito pelo fato que Enoque "só" vivera 365 anos, uma curta duração de vida para sua época, de acordo com o livro de Gênesis.
Sobre este personagem bíblico existem também os livros apócrifos pseudoepígrafos: “Livro de Enoque I” e o “Livro de Enoque II, que fazem parte do cânone de alguns grupos religiosos, principalmente dos cristãos da Etiópia”, mas que foram rejeitados pelos cristãos e hebreus, por serem particularmente incômodos para os clérigos do ponto de vista político. Todavia, a epístola de Judas, no Novo Testamento bíblico, faz uma menção expressa ao Livro de Enoque, fazendo uma breve citação nos versos 14 e 15 de seu único capítulo.
De acordo com o relato contido em Gênesis sobre a idade dos patriarcas, Sete e seus filhos ainda viviam quando Enoque foi tomado por Deus, bem comoMatusalém e Lameque.




Enoque segundo os rabinos
Rashi – um dos maiores comentaristas e intérpretes das Escrituras entre os sábios judeus – por exemplo, escreveu que "e andou Enoque – era justo e inocente em seus pensamentos, não sendo acusado em coisa alguma, por isso apressou-se o Eterno, Bendito seja Ele, em removê-lo desta Terra e matá-lo antes do tempo previsto, e esta é a razão de estar escrito, em relação a sua morte, וְאֵינֶנּוּ, “veeinenu” – pois “não havia mais ele” no neste mundo no propósito de cumprir seus anos de vida, porque לָקַח אֹתוֹ, “laqach otô” – “tomou para si (Deus)” antes do tempo.".
Em contraste com Rashi, outro comentarista bíblico - Levi ben Gershom - filosofou que “eis a causa a este fato de não ser lembrada a sua morte neste evento, contrariando os outros descendentes seus cujas mortes foram lembradas, insinuando alguma diferença entre ele e as outras personagens bíblicas: ele fez paz com sua alma e chegou a ela em sua perfeição, e as aquelas outras personagens morreram sem vontade, relutantes com a suas mortes.”. Isto significa que Enoque chegou a perfeição em sua “breve” vida, não sobrevivendo mais aqui, mas sendo tomado pelo próprio Deus."
Os sábios judeus, de abençoada memória, comentaram que “em todas as situações o sétimo é preferido [...] nas gerações: Adam, Seth, Enosh, Kenan, Mehallel, Jered, and Enoch - e entre estas todas “Enoque andou com Deus” (Gen 5:24); Entre os patriarcas, o sétimo é o preferido: Abraham, Isaac, Jacob, Levi, Kehath, Amram, e Moisés: e Moisés subiu para Deus (Ex 19:3)”. – (Peskita de Rab Kahana: cap. 23).
De acordo com o Targum de Yonatan – tradução para o aramaico das Escrituras hebraicas – Enoque tinha se elevado ao céu ainda em vida e teria se transformado no anjo Metatron. O versículo “porque andou (Enoque) com Deus” no Targum de Yonatan: “E não esteve mais (Enoque) entre os habitantes da terra, pois foi tomado e subiu para os céus, pelo comando do Eterno (se fez isso), e chamou seu nome de Metatron, o Grande Escriba.
De acordo com outro midrash, Enoque esteve entre o seleto grupo dos que entraram no paraíso celeste, indicando os que tiveram esta oportunidade - “nove foram os que entraram em vida no Jardim do Éden celestial, e estes são: Enoque, filho de Jarede, e Elias (profeta), e o Messias, e Eliezer, servo de Abraão, e Hiram, rei de Tiro, e o servo do rei de Cuche (Etiópia), e Yaabetz, filho de Rabbi Yehudá o Príncipe, e Batiah, filha de Faraó, e Sarah, filha de Asher, e há os que afirmam também que Rabbi Yehoshua ben Levi.”
Visão Muçulmana
Idris (árabe:إدريس) é um profeta no islã. Ele é conhecido na Bíblia como Enoque.
No Alcorão ele é o profeta predecessor de Nuh (Noé). Idris é reconhecido por ter aprendido muitas habilidades ou por ter inventado coisas as quais a humanidade actualmente usa como a escrita, a matemática, a astronomia, etc. De acordo com a tradição islâmica, na época de Idris as pessoas se tinham esquecido de Deus e o mundo foi por isso punido com a estiagem. Contudo, Idris orou pelos seres humanos e começou a chover, acabando com a estiagem.
De acordo com o livro "The Prophet of God Idris: Nabiyullah Idris" ("Idris o Profeta de Deus: Nabiyullah Idris" ), Idris é o nome alcorânico de Enoque. Ele é mencionado no Alcorão como preferido por Deus, que o elevou até Ele (no livro de Enoch da Bíblia, preservado pela comunidade cristã Etíope, pode ler-se que ele foi elevado até o nível da cabeça de Deus); Idris pediu para voltar novamente para a Terra, para a região de Gizan (atual Giza no Egito) onde ele lecionou as pessoas a escrever, e descreveu ter visto em sua jornada as nascentes da água (a neve nos topos das montanhas, especialmente nas áreas polares) e os fundamentos por trás da astronomia. Ele descreveu ainda diferentes céus onde ele viu diabos e jins aprisionados e sendo atormentados pelos anjos, alguns deles à espera de punição. Ele é o importante profeta entre Adão e Noé. É possível que se tenha construído pirâmides em reverência a ele, uma vez que esta foi a região onde ele ascendeu novamente ao céu e nunca mais voltou para sua família. É possível que ele seja o verdadeiro homem por trás do mito de Osíris, o deus egípcio.
Há também uma tradição britânica sobre o profeta Idris que afirma que este teria fundado Caer-Idris [colónia ou cidade de Idris], em algum lugar das ilhas britânicas, onde se lecionava astronomia. O nome Idris é hoje comum no País de Gales (uma das quatro nações que constituem o Reino Unido) em memória desse famoso druida (classe da sociedade céltica formada por anciões).


Cultura Popular
Na Trilogia Fronteiras do Universo, Enoque é um anjo da alta hierarquia que aprecia os pecados da carne, tendo sua primeira aparição em A Luneta Âmbar. De acordo, com os anjos Baruch e Balthamos, foi eleito "Regente" pela Autoridade e mudou seu nome para Metatron.