terça-feira, 24 de janeiro de 2012

REBELIÃO CARCERÁRIA (procedimento de Jorge)

Lá estava o Jorge
abaixo da lua
mas sempre esperando ter um lugar ao sol
ele já se manifestava com a segurança
de um príncipe
mas a massa presidiária
ainda não era toda sua

Mesmo assim
a mandou que falasse em seu nome
e o jovem falou
- Bifurquem-se os reis mortos
tais como os reinos eram outrora
Levantem-se - hinos antigos
e os brasões dos nobres
façam dobrar os seus clarins
e despertem os seus arredores

Reavivem os seus povos
lá fora
vassalos e servos
ergam-se bem junto ao Conde
e vamos reassumir o condado
porque em breve
na verdade pretendo refazer as leis

E os hábitos renascerão
cada um terá a sua própria língua
de sábio
e o seu painel de luxo
conforme a exigência do seu futuro

Quem quiser ser um rei transeunte
que seja
mas veja o que vai pensar ou fazer
porque o tempo é curto

E jamais esqueçam quem quer que seja
que hoje vos governo e ordeno
como imperador antigo
mas amanhã
serei como qualquer magestade

Agora adepois de amanhã
nem sei se posso sentar-me no mesmo sólio
que por ventura foi meu
mas mesmo assim não esqueçam
que aí bem perto
estão os marqueses
os duques e os barões

Preparem-se para demolí-los
antes de nos reverenciarem
porque enquanto eles nos honram
as suas falsidades nos transferem ao retorno

Enquanto vos ordeno
não queiram de forma alguma descançar
espero que todos se voltem
e se acampem nos seus devidos lugares

Todas as jurisdições que se reanimem
porque quaisquer que sejam os agravos
de modo algum
queremos recebê-los

Detalhes por detalhes
que se refaçam agora
nesse instante sou o supremo de tudo
e o meu presente é reconstituir o passado

Nunca se descuidem dos gestos
vamos em cada momento
fonografando as cenas
mudando apenas o colorido
para preto e branco

Agora a visão de tudo
nós temos que artísticamente colorir
e não quero que nada falte
por menor que seja o seu esmalte

Tempo e hora
são muito importantes para o seu espaço
e que mesmo sendo inanimado ou vivo
qualquer existência é matéria

Mesmo que às vezes
nem tenha tido uma devida forma
mas se tal
ousou ser inexistente à isso
essa mesma propriedade eu exijo agora

Que o pó se apuére e volte aos seus corpos
emboras que inexistentes no além passado

Os reis e os nobres
há mais dois mil anos
não deveriam mais existir
mas por isso mesmo
todos devem se defender dos seus fantasmas

Cada um deles
é como se tenha apenas
o valor de um pardal chinês
biològicamente nenhuma falta fará

Não tema
porque o próprio sistema
vive imitando o charme da justiça
portanto só o seguro faz diferença

Quanto a minha ordem
não temam a minha voz
porque nenhum outro imperador
os importunará perante o meu trono

Energizem-se com o mesmo vigor
que outrora tiveram
e vamos ao campo sem desmerecer a terra
joguem as suas sortes para os tribunais

Não esqueçam Daví
quero que Judá cante os nossos salmos
rumo à capital da injustiça
pondo por terra
todos os males que se fizeram muros

Descampinem-se as tribunas de Jericó
e se alguns se oporem as vossas vozes
façam-lhes:
como já lhes fizeram no passado

E assim se separem todos os reinos
para que melhor se saiba
de suas histórias
verdades que nunca foram esclarecidas

... ou justiças
atualmente seladas
no silêncio da terra
aonde jamais os sem terra vão usufruí-las


Manoel Messias Santos o pensador