É BOM QUE SE SAIBA O QUE É TEOLOGIA!
TEOLOGIA?!
Teo, do
grego θεóς, theos, significa Deus, divindade, com o sentido de
verdade, essência da verdade, fé ou caminho da verdade de alguma
divindade. Logos
λóγος é palavra, estudo; disso deriva Teologia como
estudo sistemático da palavra, análise, discurso sobre algo.
Teologia é o estudo sistemático sobre a divindade, sua essência,
atributos e existência. Estuda sistemas de crenças religiosas, podendo ser
diferentes teologias; judaica, islâmica, cristã, etc., e pode ainda ser o
conjunto ou consenso de doutrinas de determinadas religiões, tratados
fundamentais sobre escritos cristãos, islâmicos ou judaicos. É o estudo da
existência de Deus, conhecimento da divindade e questões a ela relacionadas,
bem como suas relações com a humanidade.
Teologia
é o estudo crítico da natureza dos deuses, seres divinos, ou de Deus, seus
atributos e sua relação com os homens e diversas religiões. Em sentido estrito,
limita-se ao Cristianismo, mas em sentido amplo, aplica-se a qualquer religião.
DIDAQUÊ – O LIVRO
Didaquê
ou Didaqué, Instrução dos Doze Apóstolos ou Doutrina dos Doze Apóstolos é um
escrito do século I que trata do catecismo cristão. É constituído de dezesseis
capítulos, e apesar de ser uma obra pequena, é de grande valor histórico e
teológico.
37
A Ressurreição e a Ascensão
Jesus, O “Cristo” Ressuscitou
O Sábado dos judeus havia passado, e a noite que precederia o
clarear do mais memorável domingo da história já ia bem adiantada, enquanto a
guarda romana mantinha vigilância sobre o sepulcro selado em que jazia o corpo
do Senhor Jesus. Era ainda escuro, quando a Terra começou a tremer; um anjo do
Senhor desceu em glória, empurrou para trás a pesada pedra do portal da tumba e
assentou-se sobre ela. Seu semblante brilhava como o relâmpago, e suas vestes
eram brancas como a neve. Os soldados, paralisados pelo terror, caíram por
terra como mortos. Quando se recuperaram parcialmente do susto, fugiram
aterrorizados. Nem mesmo o rigor da disciplina romana, que decretava morte
sumária para o soldado que desertasse do posto, foi capaz de detê-los. Além do
mais, nada restava para ser guardado; o selo da autoridade havia sido rompido,
e o sepulcro estava aberto e vazio.a
Ao primeiro sinal do romper do dia, a dedicada Maria Madalena
e outras mulheres fiéis partiram em direção ao sepulcro, levando especiarias e
ungüentos que haviam preparado para nova unção do corpo de Jesus. Algumas delas
haviam testemunhado o sepultamento, e haviam percebido a necessária pressa com
que o corpo fora envolto com especiarias e depositado por José e Nicodemos, no
último momento antes do início do Sábado; e agora aquelas mulheres devotas
vinham bem cedo prestar um serviço amoroso sob a forma de uma unção mais
completa e do embalsamamento externo do corpo. No caminho, enquanto conversavam
tristemente, parece que pela primeira vez pensaram na dificuldade de entrar na
tumba. “Quem nos removerá a pedra da porta do sepulcro?” perguntavam-se umas às
outras. Evidentemente, nada sabiam do selo e da guarda de soldados. No
sepulcro, viram o anjo, e amedrontaram-se, mas ele lhes disse: “Não tenhais
medo; pois eu sei que buscais a Jesus, que foi crucificado. Ele não está aqui,
porque já ressuscitou, como havia dito. Vinde, vede o lugar onde o Senhor
jazia. Ide pois, imediatamente, e dizei aos seus discípulos que já ressuscitou
dentre os mortos. E eis que ele vai adiante de vós para a Galiléia; ali o
vereis. Eis que eu vo-lo tenho dito.”b
As mulheres, embora
tivessem sido abençoadas com uma visitação angélica e uma promessa, deixaram o
lugar maravilhadas e temerosas. Consta que Maria Madalena foi a primeira a
levar informação aos discípulos a respeito da tumba vazia. Ela parece não ter
compreendido o significado jubiloso da proclamação do anjo: “Ele ressuscitou,
como havia dito”; em sua agonia de amor e pesar, lembrava-se apenas das
palavras “Ele não está aqui”, cuja veracidade lhe havia sido tão fortemente
confirmada pela rápida visão da tumba aberta e desocupada. “Correu, pois, e foi
a Simão Pedro, e ao outro discípulo, a quem Jesus amava, e disse-lhes: Levaram
o Senhor do sepulcro, e não sabemos onde o puseram.”
Pedro, e “aquele outro discípulo” que indubitavelmente era
João, partiram apressadamente, correndo juntos para o sepulcro. João
ultrapassou o companheiro, e ao chegar ao túmulo, curvou-se para olhar para dentro,
e vislumbrou a mortalha caída ao chão; mas o audaz e impetuoso Pedro entrou no
sepulcro seguido pelo apóstolo mais jovem. Os dois observaram as vestes
mortuárias, e à parte, o lenço que havia sido colocado sobre a cabeça do
cadáver. João francamente afirma que, tendo visto aquelas coisas, creu, e
explica em defesa própria e dos companheiros de apostolado: “Porque ainda não
sabiam a Escritura, que era necessário que ressuscitasse dentre os mortos.”c
A pesarosa Madalena
havia seguido os dois apóstolos de volta ao jardim do sepultamento. Nenhum
pensamento, de ter sido o Senhor restaurado à vida, parece ter encontrado
guarida em seu coração ferido de dor: ela sabia apenas que o corpo de seu amado
Mestre havia desaparecido. Enquanto Pedro e João estavam dentro do sepulcro,
ela havia permanecido fora, chorando. Depois que os homens se retiraram, ela
curvou-se e olhou para dentro da caverna aberta na rocha, e lá viu dois anjos
vestidos de branco; “assentados onde jazera o corpo de Jesus, um à cabeceira e
outro aos pés.” Com terna entonação, eles lhe perguntaram: “Mulher, por que
choras?” Em resposta, ela só pôde expressar novamente sua esmagadora tristeza:
“Porque levaram o meu Senhor, e não sei onde o puseram.” A ausência do corpo,
que ela pensava ter sido tudo o que fora deixado na terra, daquele a quem tão
profundamente amara, causava-lhe uma aflição pessoal. Há todo um mundo de
ternura e afeição em suas palavras, “Levaram o meu Senhor.”
Voltando-se da cripta
funerária que, embora iluminada no momento pela presença angélica, para ela
parecia vazia e desolada, percebeu outro Personagem parado junto a si. Ela
ouviu sua pergunta compassiva: “Mulher, por que choras? Quem buscas?” Mal
erguendo o rosto lacrimoso para o Inquiridor, mas supondo vagamente que se
tratasse do jardineiro, e que tivesse conhecimento do que havia sido feito do
corpo do seu Senhor, exclamou: “Senhor, se tu o levaste, dize-me onde o
puseste, e eu o levarei.” Ela sabia que Jesus havia sido enterrado num sepulcro
emprestado, e se o corpo já fora removido daquele lugar de repouso, ela estava
pronta a providenciar outro. “Dize-me onde o puseste”, rogava ela.
Era Jesus a quem ela falava, seu amado Senhor, embora ela não
o soubesse. Uma palavra de Seus lábios redivivos transformou-lhe a agoniante
tristeza em júbilo estático. “Disse-lhe Jesus: Maria!” A voz, o tom, o terno
acento que ela havia ouvido e amado nos dias primeiros, ergueram-na das
desesperadoras profundezas em que havia mergulhado. Voltou-se, e viu o Senhor.
Num transporte de júbilo, estendeu os braços para O abraçar, dizendo somente a
palavra carinhosa de adoração, “Raboni”, significando: meu Amado Mestre. Jesus
interceptou sua impulsiva manifestação de reverente amor, dizendo: “Não me
detenhas,d porque
ainda não subi para meu Pai”, e acrescentou, “mas vai para meus irmãos, e
dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus.”e
A uma mulher, a Maria de Magdala, foi dada a honra de ser a
primeira entre os mortais a ver uma Alma ressurreta, e essa Alma era o Senhor
Jesus.f A
outras mulheres agraciadas o Senhor ressuscitado manifestou-Se a seguir,
incluindo-se Maria, mãe de Jesus, Joana, e Salomé, mãe dos apóstolos Tiago e
João. Essas e as demais mulheres atemorizaram-se com a presença do anjo na
tumba, e haviam partido com um sentimento misto de temor e júbilo. Não tinham
estado presentes quando Pedro e João haviam entrado na caverna, nem mais tarde
quando o Senhor Se tinha dado a conhecer a Maria Madalena. Provavelmente
retornaram mais tarde, pois que algumas delas parecem ter entrado no sepulcro e
visto que o corpo do Senhor não estava lá. Enquanto permaneciam perplexas e
atônitas, notaram a presença de dois homens em vestiduras resplandecentes, e
“abaixando o rosto para o chão”, as mulheres ouviram dos anjos: “Por que
buscais o vivente entre os mortos? Não está aqui, mas ressuscitou. Lembrai-vos
como vos falou, estando ainda na Galiléia, dizendo: Convém que o Filho do Homem
seja entregue nas mãos de homens pecadores e seja crucificado, e ao terceiro
dia ressuscite. E lembraram-se das suas palavras.”g Enquanto
voltavam para a cidade para comunicar a mensagem aos discípulos, “Jesus lhes
sai ao encontro, dizendo: Eu vos saúdo. E elas, chegando, abraçaram os seus
pés, e o adoraram. Então Jesus disse-lhes: Não temais; ide dizer a meus irmãos
que vão a Galiléia, e lá me verão.”h
Pode-se imaginar por
que Jesus teria proibido a Maria Madalena que O tocasse, e tão pouco tempo
depois, tivesse permitido que outras mulheres Lhe abraçassem os pés, enquanto
se curvavam em reverência. Podemos supor que a aproximação emotiva de Maria
fosse motivada por um sentimento de afeição pessoal, ainda que santa, e não por
impulso de adoração devocional, como demonstrado pelas outras mulheres. Embora
o Cristo ressurreto manifestasse a mesma atenção amigável e íntima que mostrara
no estado mortal, para com aqueles com quem Se havia associado intimamente, não
mais poderia ser contado como um deles, em sentido literal. Havia Nele uma
dignidade divina que impedia a familiaridade pessoal íntima. A Maria Madalena
Cristo dissera: “Não me toques; porque ainda não subi a meu Pai.” Se a segunda
cláusula tiver sido dita como explicação da primeira, teremos que concluir que
não seria permitido que mãos humanas tocassem o corpo ressurreto e imortalizado
até que Ele Se tivesse apresentado ao Pai. Parece lógico e provável que entre a
impulsiva tentativa de Maria de tocar o Senhor, e a ação das outras mulheres
que Lhe abraçaram os pés, inchando-se em reverente adoração, Cristo tivesse
subido ao Pai, retornando depois à terra para prosseguir em seu ministério no
estado ressurreto.
Maria Madalena e as outras mulheres contaram aos discípulos a
história de suas diversas experiências, mas os irmãos não podiam dar crédito a
suas palavras, que “lhes pareciam como desvario, e não as creram”i Depois
de tudo que Cristo lhes havia ensinado a respeito de Sua ressurreição dentre os
mortos no terceiro dia,j os
apóstolos não eram capazes de aceitar a realidade da ocorrência; para suas
mentes, a ressurreição era um evento misterioso e remoto, não uma possibilidade
atual. Não havia precedente nem analogia para as histórias que aquelas mulheres
contavam: de uma pessoa falecida retornar à vida, com um corpo de carne e ossos
tal, que pudesse ser visto e tocado, exceto os casos do jovem de Naim, da filha
de Jairo, e do amado Lázaro de Betânia, entre cujos casos de restauração à vida
mortal, e a relatada ressurreição de Jesus, eles reconheciam diferenças
essenciais. A aflição e o sentimento de perda irreparável que haviam
caracterizado o Sábado recém-terminado foram substituídos por profunda
perplexidade, e dúvidas contraditórias, nesse primeiro dia da semana. Mas
enquanto os apóstolos hesitavam em crer que Cristo tivesse realmente
ressuscitado, as mulheres, menos cépticas, mais confiantes, sabiam; porque O
haviam visto, ouvido a Sua voz, e algumas delas tocado Seus pés.
Conspiração Sacerdotal de Falsidade
Quando os guardas romanos se recuperaram suficientemente do
susto para poderem fugir do sepulcro, dirigiram-se aos principais dos
sacerdotes, sob cujas ordens Pilatos os havia colocado,l e
relataram as ocorrências sobrenaturais que haviam testemunhado. Os principais
dos sacerdotes eram saduceus, seita ou partido do qual um traço característico
era a negação da possibilidade de ressurreição dentre os mortos. Uma sessão do
Sinédrio foi convocada, e o perturbador relatório da guarda foi considerado.
Com o mesmo espírito em que aqueles hierarcas enganadores haviam tentado matar
Lázaro, com o propósito de debelar o interesse popular pelo milagre de sua
restauração à vida, conspiravam agora para desacreditar a verdade da
ressurreição de Cristo, subornando os soldados para que mentissem.
Disseram-lhes que afirmassem: “Vieram de noite os seus discípulos e, dormindo
nós, o furtaram”; e pela falsidade, ofereceram-lhes grandes somas de dinheiro.
Os soldados aceitaram o suborno tentador, e fizeram como lhes fora dito, porque
essa atitude lhes pareceu a melhor maneira de saírem de uma situação crítica.
Se fossem considerados culpados de dormir em seus postos, a morte imediata
seria sua sina;m mas
os judeus os encorajaram com a promessa: “Se isto chegar a ser ouvido pelo
presidente, nós o persuadiremos, e vos poremos em segurança.” Deve ser lembrado
que os soldados haviam sido postos à disposição dos principais dos sacerdotes,
e provavelmente não se requeria deles que relatassem os detalhes de seus atos
às autoridades romanas.
O cronista acrescenta que, até o dia em que escrevia, a
mentira de ter o corpo de Cristo sido roubado do túmulo pelos discípulos, era
corrente entre os judeus. A total insustentabilidade do falso relato é
evidente. Se todos os soldados estivessem adormecidos, ocorrência difícil de
crer-se já que tal negligência era falta capital, como poderiam saber que
alguém se aproximara do sepulcro? E mais, como poderiam provar sua afirmativa
ainda que fosse verdadeira, de que o corpo havia sido roubado, e que os
discípulos eram os ladrões de sepultura?n A
falsa invencionice fora criada pelos principais dos sacerdotes e anciãos do
povo. Nem todo o círculo sacerdotal tomara parte nela, entretanto. Alguns, que
talvez haviam estado entre os discípulos secretos de Jesus antes de Sua morte,
não se atemorizaram de aliar-se abertamente à Igreja quando, por meio da
evidência da ressurreição do Senhor, se tornaram inteiramente convertidos.
Lemos que apenas alguns meses mais tarde, “grande parte dos sacerdotes obedecia
à fé.”
Cristo Caminha e Conversa com Dois
dos Discípulos
Pela tarde do mesmo domingo, dois
discípulos, não dentre os apóstolos, deixaram o pequeno grupo de crentes de
Jerusalém e dirigiram-se para Emaús, uma aldeia a cerca de 11 a 12 quilômetros
da cidade. Só podia haver um assunto de conversa entre eles, e sobre isso
discorriam enquanto andavam, citando incidentes da vida do Senhor, tratando
particularmente do fato de Sua morte que tão tristemente frustrara suas
esperanças de um reino messiânico, e admirando-se grandemente do
incompreensível testemunho das mulheres a respeito do Seu ressurgimento como
Alma vivente. Enquanto caminhavam, absortos em tristonha e profunda
conversação, outro Viajor se lhes achegou; era o Senhor Jesus, “Mas os olhos deles
estavam como que fechados, para que O não conhecessem.” Com polido interesse,
Ele lhes perguntou: “Que palavras são essas que, caminhando, trocais entre vós,
e por que estais tristes?” Um dos discípulos, por nome Cléofas, replicou com
surpresa mesclada de comiseração pela evidente ignorância do Estranho: “És tu
só peregrino em Jerusalém, e não sabes as coisas que nela têm sucedido nestes
dias?” Decidido a arrancar dos homens uma declaração completa do assunto que
tão evidentemente os agitava, o não reconhecido Cristo perguntou: “Quais?” Eles
não podiam permanecer reticentes. “As que dizem respeito a Jesus Nazareno,”
explicaram, “que foi varão profeta, poderoso em obras e palavras diante de Deus
e de todo o povo: E como os principais dos sacerdotes e os nossos príncipes o
entregaram à condenação de morte, e o crucificaram.” Em tom pesaroso,
prosseguiram dizendo como haviam confiado que Jesus, agora crucificado, haveria
de provar ser o Messias enviado para redimir Israel; mas ai deles! aquele era o
terceiro dia desde quando havia sido morto. Então, com os semblantes mais
desanuviados, mas ainda perplexos, falaram de algumas mulheres do seu grupo que
os assombraram na manhã daquele mesmo dia, dizendo que haviam visitado o
sepulcro bem cedo, descobrindo que o corpo do Senhor não estava lá, mas,
“também tinham visto uma visão de anjos, que dizem que ele vive.” Além do mais,
outros além das mulheres haviam ido ao sepulcro, e verificado a ausência do
corpo, mas não haviam visto o Senhor.
Jesus então,
repreendendo mansamente os companheiros de viagem como néscios e tardos de
coração em sua hesitante aceitação do que os profetas haviam falado,
perguntou-lhes impressivamente: “Porveritura não convinha que o Cristo
padecesse estas coisas e entrasse na sua glória?” E começando com as inspiradas
predições de Moisés, expôs-lhe as escrituras, tocando em todas as declarações
proféticas concernentes à missão do Salvador. Tendo continuado com ós homens
até o seu local de destino, Jesus “fez como quem ia para mais longe”, mas eles
insistiram que permanecesse, porque o dia já declinava. Ele aceitou seu
tratamento hospitaleiro e entrou na casa, e assim que a frugal refeição foi
preparada, assentou-Se com eles à mesa. Como Convidado de honra, tomou o pão,
“o abençoou e o partiu, e lhos deu.” Deve ter havido alguma coisa no fervor da
bênção, ou na maneira de partir e distribuir o pão, que reativou lembranças de
dias anteriores; ou possivelmente eles perceberam as mãos feridas; mas não
importando qual a causa imediata, eles olharam atentamente para o seu
Convidado, e “abriram-se-lhes então os olhos, e o conheceram, e ele
desapareceu-lhes.” No paroxismo de jubiloso pasmo, levantaram-se da mesa,
surpresos de si mesmos, por não O haverem reconhecido antes. Disse um ao outro:
“Porventura não ardia em nós o nosso coração quando, pelo caminho, nos falava,
e quando nos abria as Escrituras?” Imediatamente voltaram sobre seus passos e
apressaram-se de volta para Jerusalém para confirmar com seu testemunho o que,
antes, os irmãos haviam sido tardos em crer.
O Senhor Ressurreto Aparece aos
Discípulos em Jerusalém e Come em Sua Presença
Quando Cléofas e o companheiro alcançaram Jerusalém naquela
noite, encontraram os apóstolos e outros crentes devotos em solene e reverente
debate a portas fechadas. Precauções de manter segredo haviam sido tomadas “por
temor dos judeus”. Até mesmo os apóstolos haviam sido dispersados pela prisão,
acusação e assassinato judicial de seu Mestre; entretanto eles, e os discípulos
em geral, reagrupavam-se ante a notícia da ressurreição, como o núcleo de um
exército prestes a varrer o mundo. Os dois discípulos que retornavam foram
recebidos com a jubilosa proclamação: “Ressuscitou verdadeiramente o Senhor, e
já apareceu a Simão.” Essa é a única menção feita pelos evangelistas, do
aparecimento pessoal de Cristo a Simão Pedro naquele dia. O encontro do Senhor
com Seu apóstolo dantes trânsfuga, mas agora arrependido, deve ter sido
extremamente comovedor. O arrependimento de Pedro, marcado pelo remorso por
haver negado Cristo no palácio do sumo sacerdote fora profundo e contristador;
ele deve ter duvidado que jamais o Mestre viesse a chamá-lo de servo;
entretanto a esperança deve ter-lhe renascido da mensagem trazida da tumba
pelas mulheres, na qual o Senhor enviava saudações aos apóstolos, aos quais
pela primeira vez chamava de irmãos,r sendo
que dessa caracterização honrosa e afetiva, Pedro não havia sido excluído; além
do mais, a designação dada pelos anjos às mulheres tinha dado preeminência a
Pedro, mencionandoo em particular.s Ao
arrependido Pedro, o Senhor veio indubitavelmente com indulto e amorosa
confirmação. O próprio apóstolo mantém reverente silêncio a respeito da visita,
mas o acontecimento é apresentado por Paulo como uma das provas definitivas da
ressurreição do Senhor.t
Depois do jubilante testemunho dos crentes reunidos, Cléofas e
o companheiro de viagem contaram da companhia que o Senhor lhes fizera na estrada
de Emaús, das coisas que lhes ensinara, e da maneira como se lhes tornara
conhecido ao partir o pão. Enquanto o pequeno grupo permanecia reunido, “o
mesmo Jesus se apresentou no meio deles, e disse-lhes: Paz seja convosco”.
Amedrontados, supunham com supersticioso pavor que um espírito se havia
introduzido em seu meio. Mas o Senhor os confortou, dizendo: “Por que estais
perturbados, e por que sobem tais pensamentos aos vossos corações? Vede as
minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e vede, pois um
espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho.” Mostrou-lhes então
os ferimentos nas mãos, nos pés e no lado. “Não o crendo eles ainda por causa
da alegria”, ou seja, achando a realidade que todos estavam testemunhando
demasiadamente boa, demasiadamente gloriosa, para ser verdadeira. Para mais
lhes garantir que não era uma forma nebulosa, um ser imaterial de substância
tênue, e sim um Personagem vivente com órgãos corporais internos tanto quanto
externos, perguntou-lhes: “Tendes aqui alguma coisa que comer?” Deram-lhe parte
de um peixe assado e outros alimentos,u que
Ele tomou “e comeu diante deles”.
Aquelas evidências inquestionáveis
da corporeidade do Visitante acalmaram e devolveram à razão a mente dos
discípulos; e agora que estavam controlados e receptivos, o Senhor
recordou-lhes que todas as coisas que Lhe haviam acontecido estavam de acordo
com o que Lhes dissera enquanto vivera entre eles. Em Sua divina presença, o
entendimento deles foi avivado e ampliado, de maneira que compreenderam as
escrituras como nunca anteriormente — a Lei de Moisés, os livros dos profetas e
os salmos — concernentes a Ele. Que Sua morte, agora passada, era necessária,
Ele atestou tão plenamente quanto havia predito e afirmado anteriormente, e
então lhes disse: “Assim está escrito, e assim convinha que o Cristo padecesse,
e ao terceiro dia ressuscitasse dentre os mortos; e em seu nome se pregasse o
arrependimento e a remissão dos pecados, em todas as nações, começando por
Jerusalém. E destas coisas sois vós testemunhas.”
Alegraram-se então os discípulos. Estando para partir, o
Senhor deu-lhes Sua bênção, dizendo: “Paz seja convosco; assim como o Pai me
enviou, também eu vos envio a vós”. Esta especificação de homens enviados por
autoridade aponta diretamente para os apóstolos: “E havendo dito isto, assoprou
sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os
pecados lhes são perdoados; e àqueles a quem os retiverdes lhes são retidos.”
Tomé, o Que Duvidou
Quando
o Senhor Jesus aparecera no meio dos discípulos na noite do domingo da
ressurreição, um dos apóstolos estava ausente: era Tomé. Informado do que os
demais haviam testemunhado, permanecia ainda em dúvida; até mesmo o solene
testemunho deles: “Vimos o Senhor”, não conseguiu despertar um eco de fé em seu
coração. Em seu estado de cepticismo mental, exclamou: “Se eu não vir o sinal
dos cravos em suas mãos e não meter o dedo no lugar dos cravos, e não meter a
minha mão no seu lado, de maneira nenhuma o crerei”. Devemos ter cautela e
caridade em concluirmos nosso julgamento sobre a atitude de incredulidade desse
homem. Dificilmente ele poderia haver duvidado das circunstâncias tão bem
confirmadas sobre o sepulcro vazio, ou da veracidade de Maria Madalena e das
outras mulheres quanto à presença de anjos e do aparecimento do Senhor, ou do
testemunho de Pedro, ou do grupo reunido; mas pode ter considerado as
manifestações relatadas como uma série de visões subjetivas; e a ausência do
corpo do Senhor pode ter sido considerada vagamente como o resultado da
sobrenatural restauração de Cristo à vida, seguida de uma partida corpórea e
final da terra. As manifestações corporais do Senhor ressurreto, a exibição dos
ferimentos provocados pela crucifixão, o convite a que tocassem e sentissem o
corpo ressuscitado de carne e ossos, é que faziam Tomé hesitar. Ele não tinha
uma concepção tão definida da ressurreição, que pudesse concordar com um
crédito literal do testemunho dos irmãos è irmãs que haviam visto, ouvido e
sentido.
Uma semana mais tarde, pois que
assim deve ser entendida a designação judaica: “depois de oito dias”; e por
conseguinte no domingo seguinte, dia que veio mais tarde a ser conhecido na Igreja
como o “Dia do Senhor”, e a ser observado como Sábado em lugar do sábado
mosaico,x os discípulos estavam novamente reunidos, e Tomé
estava com eles. A reunião realizava-se a portas fechadas e provavelmente
guardadas, porque havia perigo de interferência de oficiais judeus. “Chegou
Jesus, estando as portas fechadas, e apresentou-se no meio, e disse: Paz seja
convosco. Depois disse a Tomé: Põe aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos; e
chega a tua mão, e põe-na no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente.”
A
mente céptica de Tomé foi instantaneamente purgada, seu duvidoso coração
purificado, e a convicção da gloriosa verdade inundou-lhe a alma. Em contrita
reverência, curvou-se ante o Salvador, exclamando em devoto reconhecimento da
divindade de Cristo: “Senhor meu, e Deus meu!” Sua adoração foi aceita, e o
Salvador disse: “Porque me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não
viram e creram.”
No Mar da Galiléia
O anjo no sepulcro, e o próprio Cristo ressurreto, haviam
repetidas vezes enviado palavra aos apóstolos para que fossem para a Galiléia,
onde o Senhor os encontraria, como dissera antes de morrer.z Eles
retardaram a partida até a semana depois da ressurreição, e então, uma vez mais
em sua província de nascimento, esperaram pelos acontecimentos. Na tarde de um
daqueles dias de espera, Pedro disse a seis de seus companheiros de apostolado:
“Vou pescar”; e os outros replicaram: “Também nós vamos contigo”. Sem demora,
embarcaram num bote de pesca e embora labutassem toda a noite, a rede havia
sido recolhida vazia depois de cada lançamento. Aproximando-se a manhã,
achegaram-se para a terra, desapontados e desanimados. No crepúsculo matutino,
foram saudados da praia por Alguém que lhes perguntou: “Filhos, tendes alguma
coisa de comer?”a Responderam-lhe:
“Não”. Tinha sido Jesus quem fizera a pergunta, embora ninguém no barco O
houvesse reconhecido. Dirigiu-Se-lhes Ele novamente dizendo: “Lançai a rede
para o lado direito do barco, e achareis. Lançaram-na, pois, e já não a podiam
tirar, pela multidão dos peixes.” Haviam feito como se lhes havia dito e o
resultado foi tão surpreendente, que lhes pareceu miraculoso; o fato deve
ter-lhes despertado lembranças de outra memorável pescaria, na qual a sua
capacidade de pescadores havia sido insuficiente para tirar os peixes, e pelo
menos três testemunhas do milagre anterior estavam no bote no momento.b
João, rápido em
discernir, disse a Pedro: “É o Senhor”; e Pedro, impulsivo como sempre,
rapidamente se cingiu com a túnica de pescador e lançou-se ao mar, para
alcançar terra o mais cedo possível e prostrar-se aos pés do Mestre. Os outros
deixaram o barco maior e entraram num bote de pequenas dimensões e remaram para
a praia, rebocando a rede pesadamente carregada. Em terra, viram brasas e um
peixe posto em cima, e pão. Jesus disse-lhes que trouxessem dos peixes que
haviam acabado de pescar, e a essa instrução o vigoroso Pedro respondeu,
lançando-se aos baixios e arrastando a rede para a praia. Quando contado, verificou-se
que o conteúdo da rede era formado de cento e cinqüenta e três grandes peixes,
e o narrador preocupa-se em anotar que “sendo tantos, não se rompeu a rede.”
Disse então Jesus:
“Vinde, comei”; e como anfitrião daquela refeição, repartiu o pão e o peixe.
Não é dito que tenha comido com os convidados. Todos sabem que era o Senhor
quem tão hospitaleiramente os servia, entretanto naquela ocasião como em todas
as demais em que apareceu em Seu estado ressurreto, havia Nele um aspecto que
infundia respeito e provocava retraimento. Eles teriam desejado argui-Lo, mas
não ousavam. João informa-nos que aquela era “a terceira vez que Jesus se
manifestava aos seus discípulos, depois de ter ressuscitado dentre os mortos”;
donde concluímos que a ocasião era a terceira em que Cristo Se havia
manifestado aos apóstolos, em agrupamento completo ou parcial, porque,
incluindo-se o aparecimento a Maria Madalena, às outras mulheres, a Pedro e aos
dois discípulos no caminho de Emaús, esta era a sétima aparição registrada do
Senhor Ressurreto.
Terminada a refeição, “disse Jesus a Simão Pedro: Simão, filho
de Jonas, amas-me mais do que estes?” A pergunta, ainda que feita com mansidão,
deve ter oprimido o coração de Pedro, associada como estava com a recordação da
afoita afirmação, embora pouco merecedora de crédito: “Ainda que todos se
escandalizem em ti, eu nunca me escandalizarei”; seguida de sua negativa
de jamais haver conhecido o Homem. À pergunta do Senhor, Pedro respondeu
com humildade: “Sim, Senhor; tu sabes que te amo”. Disse então Jesus:
“Apascenta os meus cordeiros.” A pergunta foi repetida e Pedro replicou com
palavras idênticas, ao que o Senhor retrucou: “Apascenta as minhas ovelhas”.
Terceira vez ainda Jesus perguntou: “Simão, filho de Jonas, amas-me?” Pedro estava
sentido e magoado com aquela reiteração, pensando talvez que o Senhor
desconfiava dele; mas assim como o homem havia negado três vezes, do mesmo modo
recebia a oportunidade de uma tríplice confissão. À pergunta formulada pela
terceira vez, replicou Pedro: “Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo.”
Jesus disse-lhe: “Apascenta as minhas ovelhas.”
A designação:
“Apascenta as minhas ovelhas” era uma declaração de confiança do Senhor, e da
realidade da presidência de Pedro entre os apóstolos. Ele havia anunciado
enfaticamente sua prontidão em seguir o Mestre até mesmo à prisão e à morte.
Agora o Senhor que havia morrido, lhe dizia: “Na verdade, na verdade te digo
que, quando eras mais moço, te cingias a ti mesmo, e andavas por onde querias;
mas, quando já fores velho, estenderás as tuas mãos, e outro te cingirá, e te
levará para onde tu não queiras.” João informa-nos que o Senhor assim falou
significando a morte pela qual Pedro encontraria lugar entre os mártires; a
analogia indica a crucifixão, e a história é unânime em afirmar que essa foi a
morte com que Pedro selou seu testemunho de Cristo.
Disse então o Senhor a Pedro: “Segue-me.” A ordem tinha
significação tanto imediata quanto futura. Ele O seguiu quando Jesus Se apartou
dos outros na praia; entretanto, alguns anos mais tarde, Pedro haveria de
seguir o Seu Senhor na cruz. Indubitavelmente, Pedro compreendeu a referência a
seu martírio, conforme seus escritos indicariam anos mais tarde.e Enquanto
Cristo e Pedro caminhavam juntos, este, voltando-se para trás, viu que João os
acompanhava, e indagou: “Senhor, e deste que será?” Pedro queria perscrutar o
futuro em relação ao destino do companheiro — deveria João também morrer pela
fé? O Senhor replicou: “Se eu quero que ele fique até que eu venha, que te
importa a ti?”.
Isto era uma
admoestação a Pedro para que cuidasse do seu próprio curso do dever e seguisse
o Mestre fosse qual fosse o destino do caminho.
João acrescenta a respeito de si mesmo: “Divulgou-se, pois,
entre os irmãos este dito, que aquele discípulo não havia de morrer; Jesus,
porém, não lhe disse que não morreria, mas: “Se eu quero que ele fique até que
eu venha, que te importa a ti?” O fato de que João ainda vive com o mesmo
corpo, e assim permanecerá na carne até o advento ainda futuro do Senhor, é
atestado por revelação posterior. Em companhia de seus companheiros
martirizados e ressurretos, Pedro e Tiago, o “discípulo a quem Jesus amava”
oficiou na restauração do Santo Apostolado nesta dispensação da plenitude dos
tempos.
Outras Manifestações do Senhor
Ressuscitado na Galiléia
Jesus havia designado um monte na Galiléia onde Se encontraria
com os apóstolos, e para lá se dirigiram os Onze. Quando O viram no lugar
designado, adoraram-No. O relato acrescenta “mas alguns duvidaram”, donde se
pode concluir que outros além dos apóstolos estariam presentes, dentre os quais
haveria alguns não convencidos da corporeidade do Cristo ressurreto. Essa
ocasião pode ter sido aquela de que Paulo escreveria um quarto de século mais
tarde, afirmando que Cristo “fora visto por mais de quinhentos irmãos ao mesmo
tempo”, dos quais, embora alguns houvessem morrido, a maior parte permanecia
viva ao tempo em que Paulo escrevia, como testemunhas vivas do que ele dizia.a
Aos que se reuniram no
monte, declarou Jesus: “É-me dado todo o poder no céu e na terra”, o que não poderia
ser entendido como nada menos que a afirmação de Sua divindade absoluta. Sua
autoridade era suprema, e aqueles que fossem por Ele comissionados deveriam
ministrar em Seu nome, e por um poder tal, como nenhum homem poderia conferir,
nem tomar.
Designação Final e Ascensão
Durante todo o período dos quarenta dias que se seguiram à
ressurreição, o Senhor manifestou-se aos apóstolos a intervalos; a alguns
individualmente e a todos em conjunto,h e
os instruiu no “que respeita ao reino de Deus.”i O
registro nem sempre é específico e definido quanto à ocasião e lugar de eventos
particulares, mas no que se refere ao sentido das instruções do Senhor durante
esse período, não há razão para dúvidas. Muito do que Ele disse e fez não está
escrito,j entretanto
as coisas que foram registradas, afirma João aos seus leitores, “foram escritos
para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo,
tenhais vida em seu nome.”k
Quando se aproximava o tempo de Sua ascensão, disse o Senhor
aos onze apóstolos: “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura.
Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado. E estes
sinais seguirão aos que crerem: Em meu nome expulsarão os demônios; falarão
novas línguas; pegarão nas serpentes; e, se beberem alguma coisa mortífera, não
lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e os curarão.”l Em
contraste com a designação anterior, pela qual haviam sido enviados somente “às
ovelhas perdidas da casa de Israel,”m agora
deveriam ir aos judeus e gentios, escravos e livres, à humanidade em geral, de
qualquer nação, país e língua. A salvação por meio da fé em Jesus Cristo,
seguida pelo arrependimento e o batismo, deveria ser livremente oferecida a
todos, e daquele tempo em diante, a negativa ao oferecimento traria condenação.
Sinais e milagres foram prometidos para “seguirem os que cressem”, confirmando,
assim, a sua fé no poder divino; mas nenhuma insinuação foi feita de que tais
manifestações devessem preceder a crença, como chamariz para prender os
crédulos buscadores de milagres.
Reafirmando aos apóstolos que a promessa do Pai se cumpriria
com a vinda do Espírito Santo, o Senhor instruiu-os a que permanecessem em
Jerusalém, para onde haviam retornado, vindos da Galiléia, até que fossem “do
alto revestidos de poder”;n e
acrescentou: “Porque, na verdade, João batizou com água, mas vós sereis
batizados com o Espírito Santo; não muito depois destes dias.”o
Naquela última e solene entrevista, provavelmente enquanto o
Salvador conduzia os Onze para fora da cidade em direção ao velho refúgio
familiar no Monte das Oliveiras, os irmãos, ainda imbuídos da idéia do reino de
Deus como uma instituição terrena de poder e domínio, indagaram-Lhe: “Senhor,
restaurarás tu neste tempo o reino a Israel?” Respondeu-lhes Jesus: “Não vos pertence
saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder.
Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e
serme-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e
até aos confins da terra”.p O
dever deles foi assim definido e acentuado: “Portanto ide, fazei discípulos de
todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo;
ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu
estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém”.q
Quando Cristo e os discípulos haviam saído “fora, até
Betânia”, o Senhor levantou as mãos e os abençoou; e enquanto ainda falava,
elevou-Se do meio deles, e eles O fitavam enquanto ascendia até que uma nuvem O
recebeu fora da sua vista. Enquanto os apóstolos permaneciam olhando firmemente
para cima, dois personagens vestidos de roupagens brancas, apareceram-lhes, e
disseram aos Onze: “Homens galileus, por que estais olhando para o céu? Esse
Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir assim como para o
céu o vistes ir”r
Reverentemente e cheios
de júbilo, os apóstolos tornaram a Jerusalém, para ali esperar a vinda do
Consolador. A ascensão do Senhor havia-se realizado; fora tão verdadeiramente a
partida de um Ser material, quanto Sua ressurreição havia sido um verdadeiro
retorno do espírito ao corpo material, até então morto. Com o mundo restou, e
ainda resta, a gloriosa promessa de que Jesus Cristo, o mesmo Ser que ascendeu
do Monte das Oliveiras em Seu corpo imortalizado de carne e ossos, retornará,
baixando dos céus, em semelhante forma e substância material.
Notas Do Capítulo 37
A hora e a maneira exatas da saída
de Cristo da tumba, não são conhecidas. — Nosso Senhor predisse de maneira definida Sua ressurreição dos
mortos ao terceiro dia, Mateus 16; 21. 17; 23, e 20; 19. Marcos 9; 31, e 10; 34. Lucas
9; 22, 13; 32, e 18; 33; e os anjos
no sepulcro, Lucas 24; 7, bem como o
Senhor ressuscitado em pessoa, Lucas 24; 46, declararam o cumprimento das profecias; e os
apóstolos igualmente o testificaram em anos posteriores Atos
10; 40, e 1 Coríntios 15; 4. Esta
especificação do terceiro dia não deve ser entendida como significando após
três dias completos. Os judeus começavam a contagem das horas do dia ao
pôr-do-sol, de maneira que a hora anterior ao pôr-do-sol e a que se lhe seguia,
pertenciam a dias diferentes. Jesus morreu e foi sepultado durante a tarde da
sexta-feira. Seu corpo permaneceu na tumba, morto, durante parte da sexta-feira
(primeiro dia), durante todo o sábado, ou como nós dividimos os dias, desde o
pôr-do-sol de sexta-feira ao pôr-do-sol do sábado (segundo dia), e parte do
domingo (terceiro dia). Não sabemos a que hora, entre o pôr-do-sol de sábado e a
madrugada de domingo, Ele Se levantou.
O fato de haver ocorrido um terremoto, e de que o anjo do
Senhor desceu e rolou a pedra do portal da tumba na antemanhã de domingo (pois
que assim concluímos de Mateus 28; 1, 2, não prova que Cristo ainda não tivesse
ressuscitado. A grande pedra fora rolada para trás e o interior do sepulcro
exposto à vista, para que os que chegassem pudessem ver por si mesmos que o
corpo do Senhor não estava mais lá; não era necessário abrir o portal para
preparar uma saída para o Cristo ressurreto. Em Seu estado imortalizado, Ele
aparecia e desaparecia de aposentos fechados. Um corpo ressuscitado, embora de
substância tangível, e possuidor de todos os órgãos de um tabernáculo mortal,
não está preso à Terra pela gravidade, nem pode ser impedido em seus movimentos
por barreiras materiais. Para nós, que só concebemos o movimento nas direções
relacionadas com as três dimensões do espaço, a passagem de um sólido como um
corpo vivo de carne e ossos, através de paredes de pedra, é forçosamente
incompreensível. Mas o fato de que os seres ressuscitados se movem de acordo
com leis que tornam possível tal passagem e até natural para eles, é evidenciado
não só pelos incidentes relacionados com o Cristo ressurreto, mas também pelos
movimentos de outros personagens ressuscitados. Assim, em setembro de 1823,
Moroni, o profeta nefita que tinha morrido cerca de 400 A.D., apareceu a Joseph Smith em seu quarto, três vezes
numa só noite, vindo e indo sem impedimento relacionado com paredes e teto ver P. G. V., Joseph Smith 1; 43; também Regras
de Fé, cap. 1. Verifica-se que Moroni era um homem ressuscitado pela
corporeidade que manifestou ao manusear as placas metálicas em que estavam
gravados os registros que conhecemos como Livro de Mórmon. De igual maneira, os
seres ressuscitados possuem o poder de tornarmos visíveis ou invisíveis à visão
física dos mortais.
Tentativas de desacreditar a ressurreição por meio de
falsidades. —
A inconsistente assertiva de que Cristo não havia
ressuscitado, mas que Seu corpo fora roubado da tumba pelos discípulos, foi
suficientemente examinada no texto. A falsidade é a sua própria refutação.
Incrédulos de época posterior, reconhecendo o palpável absurdo dessa grosseira
tentativa de deturpação, não hesitaram em sugerir outras hipóteses, cada qual
conclusivamente insustentável. Desse modo, a teoria baseada na impossível
suposição de que Cristo não estaria morto quando retirado da cruz, e sim num estado
de coma ou desfalecimento, e que fora mais tarde ressuscitado, nega-se a si
mesma, quando considerada em conexão com os fatos registrados. O golpe de lança
do soldado romano teria sido fatal, mesmo que a morte ainda não houvesse
ocorrido. O corpo foi baixado, manuseado, vestido e sepultado por membros do
conselho judaico que não podem ser considerados como atores no sepultamento de
um homem vivo; e no que se refere à subseqüente ressurreição, Edersheim
(vol. 2, p. 626) incisivamente nota: “Para não falarmos dos muitos
absurdos que essa teoria envolve, ela realmente transfere, se inocentarmos os
discípulos de cumplicidade, a fraude para o próprio Cristo.” Uma pessoa
crucificada, retirada da cruz antes de morrer, e subseqüentemente reavivada,
não poderia andar com pés traspassados e lacerados no mesmo dia de Sua
ressurreição, como Jesus fez na estrada de Emaus. Outra teoria, que teve os
seus dias, é a do engano inconsciente por parte dos que afirmaram ter visto o
Cristo ressuscitado, tendo sido vítimas de visões subjetivas mas irreais,
produzidas por sua própria condição imaginativa e excitada. A independência e
marcada individualidade das várias aparições registradas do Senhor contrariam a
teoria da visão. Tais ilusões visuais subjetivas conforme afirmado por essa
hipótese, pressupõem um estado de expectação da parte daqueles que pensam ver;
mas todos os incidentes relacionados com as manifestações de Jesus depois da
ressurreição, foram diretamente opostos à expectativa daqueles que se tornaram
testemunhas de Seu estado ressurreto.
Os exemplos anteriores, de teorias falsas e insustentáveis a
respeito da ressurreição de nosso Senhor, foram citados para referir as
numerosas tentativas frustradas de invalidar o maior milagre e o mais glorioso
fato da história. A ressurreição de Jesus Cristo é comprovada por evidência
mais conclusiva que aquela sobre a qual repousa nossa aceitação dos fatos
históricos em geral. Ainda assim, o testemunho da ressurreição de nosso Senhor
dentre os mortos não se fundamenta em páginas escritas. Ao que busca com fé e
sinceridade, será dada uma convicção individual que o habilitará a confessar
reverentemente, como exclamou o iluminado apóstolo do passado: “Tu és o Cristo,
o Filho de Deus vivo”. Jesus, que é Deus, o Filho, não está morto. “Eu sei que
o meu Redentor vive.” Jó 19; 25.
Aparições registradas de Cristo entre a ressurreição e a
ascensão. —
1. A Maria Madalena, perto do sepulcro, Marcos 16; 9, 10, e João 20; 14.
2. A outras mulheres, num lugar não especificado entre o
sepulcro e Jerusalém, Mateus 28; 9.
3. A dois discípulos no caminho de Emaús, Marcos 16; 12, e Lucas 24; 13.
4. A Pedro em Jerusalém ou proximidades, Lucas 24; 34, e 1 Coríntios 15; 5.
5. A dez dos apóstolos e outras pessoas em Jerusalém, Lucas 24; 36, e João 20; 19.
6. Aos onze apóstolos em Jerusalém, Marcos
Marcos 16; 14, e João 20; 26.
7. Aos apóstolos no mar de Tiberíades, na Galiléia, João 21.
8. Aos onze apóstolos num monte na Galiléia, Mateus 28; 16.
9. A quinhentos irmãos de uma só vez, 1 Coríntios 15; 6. localidade
não especificada, mas provavelmente na Galiléia.
10. A Tiago, 1
Coríntios 15; 7. Note-se que nenhum
registro é feito dessa manifestação pelos evangelistas.
11. Aos onze apóstolos ao tempo da ascensão, no Monte das
Oliveiras, próximo de Betânia Marcos 16; 19. Lucas 24; 50, 51.
As manifestações do
Senhor, depois da ascensão, serão consideradas mais adiante.
Irmão messias