A humilhação e a exaltação de Cristo
A doutrina sempre deve estar conectada com a vida, e a passagem mais
importante e mais emocionante que Paulo escreveu sobre Jesus, foi esta que
vamos reproduzi-la. Aqui Paulo alcança
as alturas mais excelsas da sua reflexão teológica acerca do Filho de Deus. Porém,
o contexto revela-nos que Paulo está tratando de um problema prático na vida da
igreja, exortando os crentes à unidade. Ou seja, Paulo está expondo seu
pensamento teológico mais profundo para resolver um problema de desunião dentro
da igreja. A teologia deve sempre estar conectada com a vida, ela determina a
ética. A doutrina é a base para a solução dos problemas que atacam a igreja. A
igreja precisa pensar teologicamente. Nessa mesma linha de pensamento Barclay
comenta:
Em Paulo sempre se
unem teologia e ação. Para ele, todo sistema de pensamento deve necessariamente
converter-se em um caminho de vida.
Em muitos aspectos
esta passagem é uma daquelas que tem o maior alcance teológico do Novo
Testamento, mas toda a sua intenção está em persuadir e impulsionar os
filipenses a viverem uma vida livre de desunião, desarmonia e ambição pessoal.
A vida de Cristo é o exemplo máximo para a igreja.
Paulo corrige os
problemas internos da igreja de Filipos, não apenas lhes oferecendo conceitos
doutrinários, mas mostrando-lhes o exemplo de Cristo. O melhor remédio para
curar os males da igreja é olhar para Jesus, seguir os seus passos e imitar seu
exemplo (2.5). A igreja de Filipos, estava sendo atacada por inimigos externos
e por intrigas internas. Para corrigir ambos os males, ela deveria olhar para
Jesus.
Barclay,
corretamente afirma que há uma área em que Cristo não pode ser nosso exemplo.
Não podemos imitar seus atos redentivos e nem sofrer e morrer vicariamente.
Mas, com o auxílio de Deus, podemos e devemos imitar o espírito que serviu de
base para esses atos. A atitude de auto renúncia, com vistas a auxiliar outros,
deveria estar presente e se expandir na vida de cada discípulo (Mateus 11.29;
João 13.12-17; 13.34; 21.19; 1Coríntios 11.1; 1Tessalonicenses 1.6; 1Pedro 2.21-23;
1João 2.6).
O mesmo autor ainda
afirma que se Jesus não é nosso exemplo, então nossa fé é estéril e nossa
ortodoxia, morta.
A HUMILHAÇÃO DE CRISTO (2.6-8)
Ele voluntariamente abriu mão de seus direitos (2.6)
Jesus antes da sua
encarnação sempre foi Deus co-igual, co-eterno e consubstancial com o Pai e com
o Espírito Santo. Ele sempre foi revestido de glória e majestade (João 17.5).
Ele é o criador de todas as coisas, visíveis e invisíveis (Colossenses 1.16).
Ele sempre foi adorado pelos anjos nas coortes celestiais.
A expressão
“subsistindo em forma de Deus” (2.6) é muito importante para entendermos a
divindade de Cristo.
Barclay, diz que a
palavra “subsistindo” hyparquein descreve aquilo que é essencial e que não pode
ser mudado; aquilo que possui uma forma inalienável. Descreve características
inatas, imutáveis e inalteráveis. Assim, pois, Paulo começa dizendo que Jesus é
Deus em forma essencial, inalterável e imutável.
Logo Paulo continua
dizendo que Jesus “subsistia em forma de Deus”. Há duas palavras gregas para
forma: morphe e schema.
Ambas podem ser
traduzidas por “forma”. Mas, elas não têm o mesmo significado. Morphe é forma
essencial de algo que jamais se altera; schema é a forma externa que muda de
tempo em tempo e de circunstância em circunstância. A palavra que Paulo usa com
referência a Jesus é morphe. Jesus está de maneira inalterável na forma de
Deus; sua essência e seu ser imutável são divinos. Werner de Boor faz
referência à bela formulação de Lutero: “O Filho do Pai, Deus por natureza…”.
Nesta mesma linha de pensamento Ralph Martin diz que morphe é “natureza
essencial” em oposição à “forma exterior” schema. O erudito Lightfoot diz que
morphe implica não em características externas, mas em atributos essenciais.
Há uma profunda
conexão entre morphe e schema. A primeira se refere àquilo que é anterior,
essencial e permanente na natureza de uma pessoa ou coisa; enquanto a segunda
aponta para seu aspecto externo, acidental ou aparente. O que Paulo está
dizendo, pois, em Filipenses 2.6 é que Cristo Jesus sempre foi (e continuará
sempre sendo) Deus por natureza, a expressa imagem da Divindade. O caráter
específico da Divindade, segundo se manifesta em todos os atributos divinos,
foi e é sua eternidade, diz Barclay. Jesus sempre foi Deus (João 1.1; Colossenses
1.15; Hebreus 1.3).
Ele sempre possuiu
toda a glória e louvor no céu. Com o Pai e o Espírito Santo, ele sempre reinou
sobre o universo.
Há uma outra verdade
gloriosa exposta no versículo 6. O apóstolo Paulo diz que Jesus “não julgou
como usurpação o ser igual a Deus”, ou seja, não considerou a sua igualdade com
Deus como “algo que deveria reter egoisticamente”. A palavra grega aqui
traduzida por “usurpação” é harpagmos. Essa palavra só aparece aqui em toda a
Bíblia. Ela provém de um verbo que significa arrebatar ou aferrar-se. Jesus não
se agarrou aos privilégios de sua igualdade com Deus, antes abriu mão dela por
amor aos homens.
Ralph Martin, afirma
que para o Cristo pré encarnado, ao invés de imaginar que igualdade com Deus
significa obter, ao contrário, ele deu – deu até tornar-se vazio.
Bruce, interpreta
corretamente essa questão, quando escreve:
Não existe a questão de Cristo tentar arrebatar, ou apoderar-se da igualdade
com Deus: ele é igual a Deus, porque o fato de Ele ser igual a Deus não é
usurpação; Cristo é Deus em sua natureza. Tampouco existe a questão de Cristo
tentar reter essa igualdade pela força.
A questão
fundamental é, antes, que Cristo não usou sua igualdade com Deus como desculpa
para auto afirmação, ou autopromoção; ao contrário, Ele a usou como ocasião
para renunciar a todas as vantagens ou privilégios que a divindade lhe
proporcionava, como oportunidade para auto empobrecimento, e auto sacrifício
sem reservas.
Jesus não pensou em
si mesmo; Ele pensou nos outros. Ele abriu mão de sua glória, desceu das
alturas e, usou seus privilégios para abençoar os outros.
Certa feita um
repórter entrevistou um próspero orientador profissional.
– Qual é o segredo
do seu sucesso? Perguntou o repórter.
– Se quiser descobrir o que vale realmente um trabalhador, não lhe dê
responsabilidades; dê-lhe privilégios, respondeu o orientador. Muitas pessoas
são capazes de cumprir responsabilidades, mas só um líder sabe lidar com
privilégios, usando-os para ajudar os outros. Um homem inferior servir-se-á dos
privilégios para autopromoção. Jesus usou os seus privilégios celestes para o
bem dos outros. A Bíblia diz que, Ele andou por toda a parte, fazendo o bem e
curando a todos os oprimidos do, (ou pelo) diabo.
(Atos 10.38).
Vale a pena
contrastar a atitude de Cristo com a de Lúcifer (Isaias 14.12-15) e com a de
Adão (Gênesis 3.1-7). Lúcifer foi o mais elevado dos seres angélicos,
assistindo junto ao trono de Deus (Ezequiel 28.11-19), mas desejou ser igual a
Deus e sentar-se sobre o seu trono.
Lúcifer declarou:
“Eu farei”, mas Jesus disse: “Faça-se a tua vontade”. Lúcifer não se contentou
em ser uma criatura, queria ser o criador; Jesus era o criador e,
voluntariamente, fez-se homem. A humildade de Jesus constitui uma reprovação ao
orgulho de Satanás.
Lúcifer, não se
contentou apenas em ser rebelde, mas invadiu o Éden e tentou o homem à
rebeldia. Adão tinha tudo, era o rei da criação, mas Satanás lhe disse: “Sereis
como Deus”. O homem então, tentou agarrar algo que estava para além do seu
alcance e assim precipitou toda a raça humana no pecado e na morte. Adão pensou
unicamente em si; Jesus Cristo pensou nos outros. Bruce, coloca essa questão
assim: “Adão, criado homem, à imagem de Deus, tentou arrebatar para si uma
falsa e ilusória igualdade com Deus. Cristo alcançou senhorio universal
mediante sua renúncia, enquanto Adão perdeu seu senhorio mediante o roubo do
fruto proibido”.
Robertson,
corretamente afirma que Paulo não está aqui nos oferecendo apenas uma técnica
discussão teológica acerca da pessoa de Cristo; em vez disso, ele está fazendo
um uso prático da encarnação de Cristo para enfatizar a grande lição da
humildade como fator essencial para a unidade. Cristo se humilhou e nós também
devemos fazê-lo.
Ele se esvaziou (2.6,7)
O Filho de Deus
deixou o céu, a glória, seu trono, e fez-se carne, fez-se homem, se encarnou.
Aquele que em seu estado pré encarnado é igual a Deus é a mesma Pessoa que se
esvaziou. O verbo grego kenou “se esvaziou”, literalmente significa “tirar algo
de um recipiente até que fique vazio” ou “derramar algo até que não fique
nada”. Paulo usa aqui a palavra mais gráfica possível para que se faça patente
o sacrifício da encarnação.
Do que Cristo se
esvaziou? Certamente não foi da existência “na forma de Deus”. Isso seria
impossível. Ele continuou sendo o Filho de Deus. Indubitavelmente, Cristo
renunciou seu ambiente de glória. Ele pôs de lado sua majestade e glória (João
17.5), mas permaneceu sendo Deus. Ele jamais deixou de ser o possuidor da
natureza divina. Mesmo em seu estado de humilhação Ele jamais se despojou de
sua divindade.
Bruce, diz que em
vez de explorar sua igualdade com Deus, e dela auferir vantagens, Jesus se
despojou a si próprio, não de sua natureza divina, visto que isso seria
impossível, mas das glórias e das prerrogativas da divindade. Isto não
significa que ele trocou sua natureza (ou forma) divina pela natureza (ou
forma) de um escravo: significa que ele demonstrou a natureza (ou forma) de
Deus na natureza (ou forma) de um escravo.
No cenáculo, Jesus
pegou uma bacia, cingiu-se com uma toalha e lavou os pés dos discípulos e
depois, disse-lhes: “Vós me chamais o Mestre e o Senhor e dizeis bem; porque eu
o sou. Ora, se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós
deveis lavar os pés uns dos outros”.
Blarcley, abrindo
uma janela para o entendimento dessa gloriosa verdade, diz que a inferência é
que Cristo se esvaziou de sua existência-na-forma-de-igualdade-a-Deus e ilustra
com alguns pontos.
Em primeiro lugar, Ele
renunciou sua relação favorável à lei divina. Enquanto permanecia no céu nenhuma
carga de culpa pesava sobre Ele.
Entretanto, ao
encarnar-se, Ele que não conheceu pecado, se fez pecado por nós (João 1.29; 2Corintios
5.1); Ele que era bendito eternamente se fez maldição por nós (Gálatas 3.13) e
levou sobre seu corpo, no madeiro, todos os nossos pecados (1Pedro 2.24).
Em segundo lugar, Ele
renunciou suas riquezas. O apóstolo Paulo diz: “Pois conheceis a graça de nosso
Senhor Jesus Cristo, que sendo rico, se fez pobre por amor de vós, para que,
pela sua pobreza, vos tornásseis ricos” (2Corintios 8.9). Jesus renunciou tudo,
até mesmo sua própria vida (João 10.11). Tão pobre Ele era que tomou emprestado
um lugar para nascer, uma casa para pernoitar, um barco para pregar, um animal
para cavalgar, uma sala para reunir e um túmulo para ser sepultado.
Em terceiro lugar, Ele
renunciou sua glória celestial. Ele tinha glória com o Pai antes que houvesse
mundo (João 17.5). Mas, voluntariamente deixou a companhia dos anjos e veio
para ser perseguido e cuspido pelos homens. Do infinito sideral de eterno
deleite, na própria presença do Pai, voluntariamente Ele desceu a este reino de
miséria a fim de armar sua tenda com os pecadores.
Ele, em cuja
presença os serafins cobriam o rosto, o objeto da mais solene adoração,
voluntariamente desceu a este mundo, onde foi “desprezado e o mais rejeitado
entre os homens; homem de dores e que sabe o que é padecer” (Isaias 53.3).
Em quarto lugar, Ele
renunciou o livre exercício de sua autoridade. Ele voluntariamente se submeteu
ao Pai e diz: “Eu não procuro a minha própria vontade, e, sim, a daquele que me
enviou” (João 5.30).
Bruce, comentando
este texto diz que Jesus não era parte homem e parte Deus; Ele era
completamente humano e completamente divino. Antes de Jesus vir
ao mundo, as pessoas só podiam conhecer a Deus parcialmente. Depois, puderam
conhecê-lo plenamente, porque Ele se tornou visível e tangível. Cristo é a perfeita expressão de Deus em
forma humana. Ele é a exegese de Deus. Nele habita corporalmente toda a plenitude
da divindade. Como homem, porém, Jesus estava limitado a lugar, tempo, e outras
limitações humanas. Contudo, ele não deixou de ser plenamente Deus ao tornar-se
humano, embora tenha abdicado de sua glória e seus direitos.
É estonteante
refletir que Paulo tenha escrito sobre esse sublime mistério da humilhação de
Cristo para ensinar a igreja de Filipos acerca da humildade nos
relacionamentos.
11
Werner de Boor corrobora,
dizendo:
Será que haveria
pessoas em Filipos que deveriam doar, ceder, tornarem-se humildes, mas que
declarariam: “Não se pode exigir isso de mim. Isso é demais para minha boa
vontade!” Será que qualquer um deles, Paulo ou os filipenses, ainda pode
reivindicar quaisquer direitos no serviço a esse Jesus? “Esvaziar-se”,
renunciar, tornar-se pequeno – será que ainda seria difícil agir assim depois
de ouvir acerca desse Jesus e da forma com que ele abriu mão do que tinha:
passando da forma divina para figura de escravo? Será que esse incrível salto
para as profundezas poderia ser comparável ao salto de um pecador perdido e
condenado para se tornar escravo desse Jesus? Se em algum momento houver
problemas com a concórdia e comunhão dos irmãos porque alguma coisa ainda está
sendo retida, então Jesus ainda não foi corretamente apreendido. É justamente
por isso, não para escrever capítulos de uma obra doutrinária, que Paulo mostra
Jesus aos filipenses.
Ele serviu (2.7) O eterno Filho de Deus não nasceu num
palácio.
O Rei dos reis não
nasceu num berço de ouro nem entrou no mundo por intermédio de uma família rica
e opulenta; ao contrário, nasceu num berço pobre, numa família pobre, numa
cidade pobre. Jesus nasceu numa manjedoura, cresceu numa carpintaria e morreu
numa cruz. Ele não veio ao mundo para ser servido, mas para servir (Marcos
10.45).
Jesus não pensou nos
outros apenas de forma abstrata; ele assumiu a forma de servo, ele serviu. A
palavra “forma” aqui é novamente morphe, uma forma absoluta. Jesus não fingiu
ser um servo. Ele não foi um ator no desempenho de um papel. Ele de fato foi
servo! A única pessoa no mundo que tinha razão de fazer valer seus direitos, os
renunciou. E foi Cristo Jesus mesmo que disse: “Pois, no meio de vós, eu sou
como quem serve” (Lucas 22.27). Jamais
algum servo serviu com mais imutável lealdade, abnegada devoção e irrepreensível
obediência do que Jesus. O Senhor de todos tornou-se servo de todos (Mateus 20.27; Marcos 10.45). Jesus assumiu a forma de
servo como Ele era antes em toda a eternidade em forma de Deus.
Jesus serviu aos
pecadores, às meretrizes, aos cobradores de impostos, aos doentes, aos
famintos, aos tristes e enlutados. Quando seus discípulos, no cenáculo, ainda
alimentavam pensamentos soberbos, ele pegou uma toalha e uma bacia e levou os
seus pés (João 13.1-13).
Ele se tornou em semelhança de homens (2.7)
O que Paulo quer
dizer quando afirmou que Cristo Jesus se tornou em semelhança de homens e foi
reconhecido em figura humana?
Aquele que era em
forma de Deus e era igual a Deus desde toda a eternidade tomou a forma de um
homem num particular momento da história. Robertson, corretamente afirma que a
humanidade, embora completamente real e não meramente aparente como firmavam os
dos céticos gnósticos, não podiam expressar tudo o que Cristo verdadeiramente
era.
Ele continuou
subsistindo em forma de Deus em sua natureza essencial a despeito de sua
encarnação. Ele conservou a natureza essencial de Deus mesmo depois de se
tornar em semelhança de homens.
Barclay, diz que
embora os homens estivessem certos em reconhecer a humanidade de Cristo estavam
errados em dois aspectos: Rejeitaram sua humanidade impecável e sua divindade.
E ainda que toda sua vida, particularmente, suas palavras e atos poderosos
manifestassem “a divindade velada na carne”, todavia, de um modo geral,
rejeitaram suas reivindicações e o odiaram ainda mais por causa delas (João
1.11; 5.18; 12.37). Cumularam-no de escárnio, de forma que “era desprezado e o
mais rejeitado entre os homens…” (Isaias 53.3).
Neste versículo 7, o
apóstolo Paulo usa três palavras gregas que nos ajudam a entender o que
significa para o eterno Filho de Deus se tornar semelhança de homens. A primeira palavra é
morphe, a mesma palavra usada no verso 6 para expressar “forma de Deus”.
Essa palavra foi
usada para falar de Jesus em forma de Deus, e, agora, é usada para falar dele
em forma de servo. A palavra morphe, segundo James Boyce tem diferentes
significados na língua grega; ela se refere tanto ao caráter interno de uma
pessoa ou coisa como a forma externa que expressa esse caráter interno. Desta
maneira, quando Paulo diz que Cristo tomou a forma de servo ele quer dizer que
Cristo se tornou homem tanto internamente como externamente.
Já temos visto que
Cristo possuía internamente a natureza de Deus e a apresentou externamente.
Nesse mesmo sentido, Jesus também possuía a natureza de homem tanto interna
quanto externamente.
Exceto no pecado,
qualquer coisa que pode ser dito acerca do homem, pode ser dito também sobre o
Senhor Jesus Cristo. Jesus, assim, tornou-se semelhante ao primeiro Adão, que
foi sem pecado, mas como segundo Adão, fez-se pecado por nós, para vencer o
pecado e nos remir dele.
A segunda palavra é
homoioma, traduzida por Paulo como “semelhança”. Se a palavra morphe refere-se
à natureza do homem; a palavra homoioma fala dessa externa aparência. Jesus não
tem apenas sentimentos e intelecto humanos, ele tem também a aparência humana.
Ele nasceu como um
bebê judeu e cresceu como os outros meninos da sua raça. Do ponto de vista
físico, ele foi perfeitamente homem.
A terceira palavra é
schema, traduzida por Paulo por “figura”. O pensamento aqui é de conformidade
com a experiência humana. Paulo diz que Cristo não era apenas um homem
internamente em seus sentimentos e emoções; não apenas um homem externamente em
seu aspecto físico, mas também ele era um homem no sentido de que suportou tudo
o que nós suportamos neste mundo: tentação (Hebreus 4.15), sofrimento (1Pedro 2.21) e desapontamento (Mateus 23.37). Tudo o que diz respeito à experiência
humana, Jesus também vivenciou.
Ele se sacrificou (2.8)
Muitas pessoas estão
prontas a servir outros, se isso não lhes custar nada. Mas se há um preço a
pagar, então perdem o interesse. Jesus Cristo serviu sacrificialmente e foi
obediente até à morte, e morte de cruz.
16
Jesus, o Cristo se
esvaziou e se humilhou quando Ele se fez homem. Depois desceu mais um degrau
nessa escalada da humilhação, quando se fez servo; mas, desceu às profundezas
da humilhação quando suportou a morte e morte de cruz. Por seu sacrifício, ele
transformou esse horrendo patíbulo de morte no símbolo mais glorioso do
cristianismo (Gálatas 6.14).
James Boyce, diz que
a cruz de Cristo, é a grande ênfase de toda a Bíblia, tanto do Velho como do
Novo Testamento (Lucas 24.25-27). Dois
quintos do Evangelho de Mateus são dedicados à última semana de Jesus em
Jerusalém. Mais de três quintos do Evangelho de Marcos, um terço do Evangelho
de Lucas e quase a metade do Evangelho de João dão a mesma ênfase. O apóstolo
João fala da crucificação de Cristo como a “a hora” vital para a qual Cristo
veio ao mundo e seu ministério foi exercido (João 2.4; 7.30; 8.20; 12.23; 12.27;
13.1; 17.1). O mesmo autor diz que, Cristo morreu para remover o pecado (1Pedro
2.24; 2Coríntios 5.21), satisfazer a
justiça divina (Romanos 3.24-26) e
revelar o amor de Deus
(João 3.16; e 1João 4.10).
A morte de cruz tinha três características:
Em primeiro lugar,
ela era dolorosíssima. Era a pena de morte aplicada apenas aos escravos e
delinqüentes.
17
Havia um adágio que
dizia que uma pessoa crucificada morria mil mortes. Muitas vezes, o crucificado
passava vários dias pregado na cruz e morria lentamente com câimbras, asfixia e
dores atrozes.
Em segundo lugar,
ela era ultrajante. A pessoa condenada era açoitada, ultrajada e cuspida e,
depois, tinha que carregar a cruz debaixo do escárnio da multidão até o lugar
da sua execução.
Em terceiro lugar,
ela era maldita. Uma pessoa que era dependurada na cruz era considerada maldita
(Deuteronômio 21.23; e Gálatas 3.13). Assim, enquanto Jesus estava pendente
na cruz, embaixo Satanás e suas hostes o assaltavam; em volta os homens o
escarneciam; de cima, Deus o cobria com um manto de trevas, símbolo de maldição
e de dentro prorrompia o amargo grito: “Deus meu, Deus meu, por que me
desamparaste?” De fato, Cristo desceu a este inferno, o inferno do Calvário.
Ralph Martin diz que,
o Senhor da Igreja consentiu em terminar sua vida num patíbulo romano e do
ponto de vista judaico, morrer sob condenação divina. Assim, Jesus nos conduz
como num imenso mergulho, dos mais elevados píncaros aos mais profundos vales,
da luz de Deus para a escuridão da morte.
Mas, não devemos
olhar a morte de Cristo na cruz apenas sob a perspectiva do sofrimento físico.
A grande questão é:
por que ele morreu na cruz? Cristo não foi para a cruz porque Judas o traiu por
ganância, porque os sacerdotes o entregaram por inveja ou porque Pilatos o
condenou por covardia.
Ele foi para a cruz
porque o Pai o entregou por amor e porque ele a si mesmo se entregou por nós. Ele morreu pelos nossos pecados (1Corintios
15.3).
Nós o crucificamos.
Nós estávamos lá no Calvário não como plateia, mas como agentes da sua
crucificação.
A cruz de Cristo é a
maior expressão do amor de Deus por nós e a mais intensa expressão da ira de
Deus sobre o pecado. O pecado é horrendo aos olhos de Deus. A santa justiça de
Deus exige a punição do pecado. O salário do pecado é a morte. Então, Deus num
ato incompreensível de eterno amor, puniu o nosso pecado em seu próprio Filho,
para poupar-nos da morte eterna. Na cruz Jesus bebeu sozinho o cálice amargo da
ira de Deus contra o pecado. Na cruz Jesus foi desamparado para sermos aceitos.
Ele não desceu da cruz para podermos subir ao céu. Ele se fez maldição na cruz
para sermos benditos de Deus. Ele morreu a nossa morte para vivermos a sua
vida.
A EXALTAÇÃO DE
CRISTO
É obra de Deus.
O apóstolo Paulo faz
uma transição daquilo que Cristo fez para aquilo que Deus fez para Ele e por Ele.
O mesmo que se humilhou foi exaltado e essa exaltação lhe foi dada pelo Pai. O
caminho da exaltação passa pelo vale da humilhação; a estrada para a coroação,
passa pela cruz. Deus exalta aqueles que se humilham (Mateus 23.13; Lucas 14.11; 18.14; Tiago 4.10; 1Pedro 5.6). Foi por causa do sofrimento da morte que
essa recompensa lhe foi dada (Hebreus
1.3; 2.9; 12.2), diz Barclay.
Deus não deixou
Cristo na sepultura, mas levantou-o da morte, levou-o de volta ao céu e o glorificou
(Atos 2.33; e Hebreus 1.3).
Deus deu a Jesus
“toda autoridade no céu e na terra” (Mateus 28.18). Deu a ele autoridade para julgar (João
5.27) e fê-lo senhor de vivos e de
mortos (Romanos 14.9), fazendo-o
assentar à sua destra, acima de todo principado e potestade, constituindo-o a
cabeça de toda a igreja (Efésio
1.20-22).
Fica claro que esta
elevação de Jesus não foi a restituição da natureza divina, porque Ele jamais a
renunciou, mas foi a restituição da glória eterna que tinha com o Pai antes que
houvesse mundo, da qual voluntariamente havia se despojado (João 17.5,24).
Porque Jesus se
humilhou, ele foi exaltado. Jesus mesmo é a suprema ilustração de sua própria
afirmação: “… todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será
exaltado” (Lucas 18.14).
Os homens o cuspiram,
mas Deus o exaltou. Os homens lhe deram nomes insultuosos, mas o Pai lhe deu o
nome que está acima de todo nome.
É uma exaltação incomparável (2.9)
A expressão “o
exaltou sobremaneira” é a tradução do verbo grego hyperhypsoun que só aparece
aqui em todo o Novo Testamento e só pode ser aplicado a Cristo. O significado
desse verso é “superexaltado”. Deus, o Pai enalteceu o Filho de uma forma
transcendentemente gloriosa. Soergueu-o à mais elevada excelsitude. Se os
salvos vão para o céu, Cristo ultrapassou os céus (Hebreus 4.14), foi feito mais alto que os céus (Hebreus
7.26) e subiu acima de todos os céus (Efésio
4.10).
A exaltação
incomparável de Cristo constitui-se no fato d’Ele ter recebido um nome que está
acima de todo nome (2.9).
Ele recebeu este
nome por herança. (Hebreus 1.4) e por doação (2.9). O nome de Jesus, agora, é possessão da
igreja. Por meio desse nome os enfermos são curados, (Atos 3.6), os perdidos são salvos (Atos 4.12), os crentes são perdoados (1João 2.12), os cativos são libertos (Lucas 10.17), as orações são respondidas (João 16.23). O apóstolo Paulo diz que devemos fazer
tudo em nome de Jesus (Colossenses 3.17).
O grande título pelo
qual Jesus chegou a ser conhecido na Igreja primitiva foi Kyrios. A palavra
kyrios tem uma história luminosa.
Começou significando
amo ou proprietário. Depois chegou a ser o título oficial dos imperadores
romanos. E em seguida passou a ser o título dos deuses pagãos.
Kyrios era o termo
grego que traduzia a Deus na versão grega das Escrituras, a Septuaginta. Desta
maneira, quando Jesus era chamado Kyrios,
Senhor, significava
que era o Senhor e o Dono de toda vida, o Rei dos reis e Senhor de imperadores;
o Senhor de uma maneira em que os deuses pagãos e os ídolos mudos jamais podiam
sê-lo. Jesus era nada menos que divino.
A grande ênfase do
Novo Testamento é sobre o senhorio de Cristo. O Filho de Deus é chamado de
Senhor mais de seiscentas vezes no Novo Testamento. Somente os que confessam
que Jesus é Senhor podem ser salvos. As Escrituras Sagradas na Bíblia, dizem que quem tem o Filho de Deus tem a vida eterna.
Podemos ilustrar
esse ponto como segue:
Havia um homem muito
rico que investira grande fortuna em quadros famosos. Tinha orgulho de ter uma
das mais requintadas coleções dos maiores e mais consagrados pintores do mundo.
Um dia seu filho único foi ferido numa viagem e morreu. Seu amigo, que o
acompanhara em seus últimos suspiros, buscando consolar aquele pai aflito,
enviou-lhe um quadro que ele mesmo pintara do rosto do seu filho.
Ao receber o quadro,
colocou-o numa bela moldura e dependurou-o junto aos seus quadros mais seletos.
Ao perceber que sua morte se avizinhava, aquele homem rico chamou seu mordomo e
entregou-lhe as suas últimas recomendações. Determinou que os quadros fossem
leiloados e o dinheiro arrecadado deveria ser entregue a uma instituição de
caridade. Em dia determinado, o leilão aconteceu. Para surpresa de todos, o
mordomo começou leiloando o quadro do filho.
Ninguém demonstrou interesse pelo quadro, pois
ele não tinha nenhum atrativo nem valor artístico. Até que alguém resolveu
fazer uma oferta e comprou o quadro. Para maior surpresa ainda, o mordomo
anunciou o término do leilão. E quando, todos estavam inconformados e buscando
uma explicação, o mordomo leu o testamento do seu patrão: “Aquele que comprar o
quadro do filho, tem todos os outros, pois quem tem o filho tem tudo”. Podemos,
de igual forma, afirmar: “Quem tem o Filho tem a vida”, quem tem Jesus tem
tudo!
É uma exaltação que exige rendição de todos (2.10)
Barclay diz que, em
seu regresso em glória, Jesus será adorado por toda corporação de seres morais,
em todos os setores do universo. Os anjos e os seres humanos redimidos farão
isso com intenso regozijo, enquanto os condenados farão isso com profunda
tristeza e profundo remorso (Apocalipse 6.12-17). Ralph diz que, a aclamação
final do universo é, também, o “slogan” confessional da Igreja de hoje: “Jesus
Cristo é Senhor”. Ambos, o universo e a Igreja unem-se num reconhecimento
comum, e num tributo unânime.
Na segunda vinda de
Cristo os três mundos vão se dobrar aos seus pés: os céus, a terra e o inferno.
Todo o joelho vai se
curvar diante do poderoso nome de Jesus no céu (os anjos e os remidos), na
terra (os homens) e debaixo da terra (demônios e condenados). Com que júbilo se
ajoelharão diante de Jesus aqueles que foram salvos por ele. Com que pavor cairão
de joelhos aqueles que passaram orgulhosamente por ele ou o rejeitaram!
Motyer, corretamente
afirma que Jesus foi coroado no dia da sua ascensão. Embora o dia da sua
coroação já tenha ocorrido, infelizmente poucos têm conhecimento desse fato
auspicioso. Aqueles que amam a Jesus sabem disso e se regozijam nesse fato, mas
milhões de pessoas no mundo não sabem que Jesus é o Rei coroado e somente se
prostrarão aos seus pés quando ele se manifestar em glória. Naquele dia todo
joelho vai se dobrar, toda língua vai confessar que Jesus é Senhor, mas nem
todos serão salvos.
É uma exaltação proclamada universalmente (2.11)
Toda língua vai
confessar que Jesus é Senhor. Ele é o Rei dos reis, o Senhor dos senhores, o
Todo-poderoso Deus, diante de quem os poderosos deste mundo vão ter que se
curvar e confessar que ele é Senhor. Aqueles que zombaram dele, vão ter que
confessar que ele é o Senhor. Aqueles que o negaram e nele não quiseram crer,
vão ter que admitir e confessar que ele é Senhor.
Essa confissão será
pública e universal. Todo o universo vai ter que se curvar diante daquele que
se humilhou, mas foi exaltado sobremaneira!
Isso não significa,
obviamente, que todas as pessoas serão salvas. Somente aqueles que agora
reconhecem que Jesus é o Senhor o confessam como tal serão salvos (Romanos 10.9). Porém, na segunda vinda de Cristo
nenhuma língua ficará silenciosa, nenhum joelho ficará sem se dobrar. Toda as
criaturas e toda a criação reconhecerão que Jesus é Senhor (2.11; Apocalipse 5.13).
É uma exaltação que tem um propósito estabelecido (2.11)
A exaltação de Jesus
tem dois propósitos claros:
Em primeiro lugar,
que todos, em todos o universo reconheçam o senhorio de Jesus Cristo. Deus o
exaltou, o fez assentar à sua destra e o constitui o Senhor absoluto do todo o
universo. O senhorio de Cristo foi a grande ênfase da pregação apostólica (Atos
2.36; Romanos 10.9; Apocalipse 17.14; 19.16). Importa que todos, em todos os
lugares, de todos os tempos reconheçam e confessem que Jesus é Senhor. Em
virtude do poder e majestade de Jesus Cristo, e pelo reconhecimento de que ele
é o Senhor, toda língua o proclamará. Pense nos termos pelos quais temos o
privilégio de darmos glória a Ele.
Pense sobre seus
nomes. Jesus Cristo é o Maravilhoso Conselheiro, o Deus Forte, o Pai da
Eternidade, o Príncipe da Paz. Ele é o Messias, o Senhor, o Primeiro e o
Último, o Começo e o Fim, o Alfa e o Ômega, o Ancião de Dias, o Rei dos reis e
o Senhor dos senhores, o Deus conosco, Aquele que era, que é e que há de vir.
Ele é chamado de a Porta das Ovelhas, o Bom Pastor, o Grande Pastor e o Supremo
Pastor, o Bispo das nossas almas. Ele é o Cordeiro sem defeito e sem mácula, o
Cordeiro imolado antes da fundação do mundo. Ele é a Palavra, a Luz do Mundo, a
Luz da Vida, a Árvore da Vida, a Palavra da Vida, o Pão que desceu do céu, a
Ressurreição e a Vida, o Caminho, a Verdade, e a Vida. Ele é o Deus Emanuel.
Ele é a Rocha, o Noivo, a Sabedoria de Deus, nosso Redentor. Ele é o Cabeça de
todas as coisas, o Amado em quem Deus tem todo o seu prazer. É Jesus Cristo
todas essas coisas para você? Se Jesus representa todas essas gloriosas
verdades para você, então, seus joelhos se dobrarão e sua língua confessará que
ele é Senhor para a glória de Deus Pai.
Em segundo lugar,
que o Pai seja glorificado pela exaltação do Filho. O fim último de todas as
coisas é a glória de Deus (1Corintios 10.31). Paulo há havia advertido contra o
pecado da vanglória (2.3). Toda a glória que não é dada a Deus é glória vazia,
é vanglória.
27
Cristo se humilhou e
suportou a cruz para a glória de Deus (João 17.1). Ele ressuscitou e foi exaltado para a
glória de Deus. Ralph, sintetiza esse
glorioso pensamento de forma sublime:
O senhorio de Cristo
não compete com o de Deus, nem a entronização do Filho ameaça a monarquia única
do Pai. Cristo rege para a glória de Deus Pai. Sua soberania é dom do Pai.
Aquilo que ele recusou-se a usurpar egoisticamente, num ato de enaltecimento
próprio, destituído de sentido, aprouve ao Pai conceder-lhe, agora. A última
palavra é Pai, como que para enfatizar que, agora, no Cristo pré-existente,
encarnado, humilhado, exaltado, Deus e o mundo estão unidos, e um novo segmento
da humanidade, um microcosmo da nova ordem de Deus para o universo, está
nascendo (Efésios 1.10).
CONCLUSÃO
Toda a vida e obra
de Jesus não apontam para sua glória pessoal, mas objetiva a glória de Deus.
Jesus atrai os homens para si para poder levá-los a Deus. Na igreja de Filipos
havia alguns que tinham o propósito de satisfazer suas ambições egoístas.
Porém, o único propósito de Jesus era servir a outros ainda que isso tenha lhe
custado a maior de todas as renúncias. Enquanto alguns membros da igreja de
Filipos queriam ser o centro das atenções, Jesus queria que o único centro da
atenção fosse Deus.
Assim, também, o
seguidor de Cristo nunca deve pensar em si mesmo, senão nos demais; não deve
buscar sua própria glória, senão a glória de Deus. Assim seja Senhor, conforme
a sua vontade e os seus designios.
Que o Santo Senhor
Deus das misericórdias abençoe a todos.
Irmão messias