Sem Débitos, Exceto o Amor
Romanos 13.8-10
8 A
ninguém fiqueis devendo coisa alguma, exceto o amor com que vos ameis uns aos
outros; pois quem ama o próximo tem cumprido a lei.
9 Pois
isto: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não cobiçarás, e, se há
qualquer outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás o teu próximo
como a ti mesmo.
10 O amor não
pratica o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor.
É interessante a
mudança de assunto dos versículos? Sim!
No 7, Paulo exorta
os crentes a pagarem o que devem: seja dinheiro (em forma de impostos e
tributos), respeito ou honra.
Com a ideia de
débito em mente, ele escreve a seguir:
a ninguém fiqueis devendo coisa alguma
E estabelece um
valiosíssimo princípio de vida. Não deva! Não tenha pendências.
Quando se fala em
débito, a primeira coisa que vem em mente é dinheiro.
Como se a ordem
fosse: não fique devendo
dinheiro a ninguém
Antes de tudo,
espero que fique bem claro.
Existe quem
interprete essa ordem de maneira radical, como se o crente não pudesse pedir
emprestado nunca e a ninguém. Tudo deve ser pago rigorosamente à vista.
Mas não é
isso o que Paulo estava dizendo.
A rigor, todo mundo
deve alguma coisa a alguém.
No dia seguinte que
pagou o salário do empregado, o empregador já está devendo novamente um dia. A
dívida vai acumulando até o próximo pagamento.
Se fosse levar ao pé
da letra, todo final de dia o empregado deveria ser pago. Mas mesmo assim, ao
meio dia do dia seguinte, o patrão já estaria devendo de novo, quatro horas de
trabalho.
Você vai a um
dentista, ele faz um orçamento e o serviço começa. Logo no primeiro dia, você
já está devendo, mesmo que o serviço não esteja completo.
Situações assim,
fogem da lógica.
Então, o que Paulo
quer dizer é:
Que o crente não
deve deixar de pagar os seus compromissos conforme combinado.
É como se Paulo
tivesse dito: honre os seus compromissos não os deixe virar
dívidas.
Se você contratou um
empregado para pagamento semanal, pague toda semana. Se for mensal, pague
todo mês.
Você pediu um
empréstimo de R$1.000 para pagar em 10 prestações de R$100, no dia
20 de cada mês. Pois pague exatamente conforme combinado.
E se não conseguir,
vá até o credor, explique a situação e combine uma forma de pagar.
Ao acertar uma nova
data, a dívida desaparece e volta a ser compromisso.
Mas não é para
evitarmos dever apenas dinheiro. Ele disse coisa alguma.
O que, por exemplo?
Algumas sugestões, entre outras possíveis:
Acerto de pendências
e diferenças
Você está arranhado
com um irmão, mal consegue olhar para ele.
E sabe que, pela
Escritura, o correto é marcar um encontro para acertar tudo. Pois marque!
Pedido de desculpas
Você ofendeu alguém.
Sua consciência está lhe acusando.
Pois enquanto você
não pedir perdão, você é um grande devedor.
E mais: se você
ofendeu perante um grupo, peça perdão na frente do mesmo grupo.
Ajuda dentro das
suas possibilidades
Alguém lhe pede ajuda
ou mesmo sem pedir você sabe que ele está precisando.
Aí você coloca no
seu coração vou ajudar. E ainda estabelece a maneira:
“No fim do mês,
quando receber meu salário, vou dar R$50 para ele.”
Ou: “Vou tentar
arranjar um emprego para ele, quando o fulano chegar de viagem.”
E nunca faz. Você se
tornou um devedor.
Deus valoriza o
cumprimento de coisas que colocamos no coração.
Cumprimento do que
prometeu
Este caso é um
complemento do anterior. Você não só pensou em dar uma ajuda, como prometeu.
Agora ficou dívida assumida.
E não é necessário
que a promessa tenha sido de ajuda.
Pode ter sido um compromisso qualquer.
Até um mero encontro, com hora marcada.
Se você não pôde ir,
então deve satisfação. Enquanto não fizer isso, está em dívida.
Mas a regra de Paulo
tinha uma exceção:
exceto o amor com que vos ameis uns aos outros
Aqui surge uma
questão interessante.
À primeira vista,
Paulo deveria ter dito o contrário: A ninguém fiqueis devendo coisa
alguma, especialmente o amor.
Mas o amor sai da
lista e vira exceção. Como se dissesse: “O amor vocês podem dever”.
Não é bem assim.
Novamente encontramos aqui a praticidade e objetividade de Paulo.
Não é que deveríamos
ficar devendo amor aos outros.
Mas o fato é que sempre estaremos
devendo.
Por mais que você
pague amor, nunca saldará a dívida.
Aliás, pensar que
está quite com essa dívida, é até perigoso. Pode pensar que já ama o próximo
num nível aceitável, e nem se preocupar mais com isso.
Quando você quita
uma dívida, não pensa mais nela. Tanto que é irritante receber cobrança de um
pagamento feito.
Mas a pureza e a
intensidade do amor que Deus espera de você, sempre estará muito além do amor
que você consegue oferecer.
Nesta vida você
nunca ouvirá de Deus a aprovação final: Estou satisfeito com a
qualidade do amor que você tem dedicado aos semelhantes.
Exceção na raça
humana: Cristo. Veja João 13.1
Embora se refira ao
amor pelos discípulos dEle, mostra que o amor dEle é total, sem defeito. Cristo
não deve amor a ninguém. Ele ama de maneira plena.
Quanto a nós, sempre
seremos devedores de amor.
Não somente quanto à qualidade do
amor que você dedica aos que já ama, mas à quantidade de
pessoas que você poderia amar e ainda não conseguiu.
pois quem ama o próximo tem cumprido a lei
Afirmação coerente com
a ideia de que o amor é uma dívida que sempre teremos.
Nesta própria carta
aos Romanos, Paulo já dissera que ninguém consegue cumprir a lei. A salvação
não é pelo cumprimento da lei. Abraão não foi escolhido porque tinha mérito
pessoal diante de Deus, mas pela graça.
Israel não foi
escolhido por cumprimento de lei alguma, mas pela graça de Deus.
Não há quem faça o
bem, nem um sequer.
Então o próprio fato
de que quem ama tem cumprido a lei, já mostra que o amor ordenado por Deus não
é alcançado, uma vez que a lei nunca será totalmente cumprida por homem algum
(exceto Cristo).
Mas o tom não
é de desânimo. Paulo nunca desanimou ninguém quanto ao cumprimento da lei,
no seu aspecto moral e espiritual.
Nunca sugeriu que
alguém deixasse de tentar cumprir a lei pelo fato de ser impossível. Todos
devem tentar, mesmo sabendo que não conseguirão.
E não devem se
desesperar, pois a salvação não vem daí.
Da mesma maneira,
não devemos deixar de tentar amar.
A dívida impagável
não deve nos desanimar. Vamos pelo menos amortizar o débito!
Aqui no versículo 9
Paulo vai provar que
quem ama o próximo tem cumprido a lei.
Dos dez mandamentos
das tábuas da lei, quatro se relacionam com a adoração a Deus e seis tratam do
relacionamento com o próximo.
Desses seis, Paulo
cita quatro, para mostrar que, na base de cada um está o amor.
Não adulterarás – O adultério
é falta de amor com os cônjuges traídos e com a própria pessoa com quem cometeu
o adultério. Falta de amor com os filhos, e com outros.
Não matarás - A falta de
amor é tão óbvia que dispensa comentário.
Não furtarás - Quem ama o
outro nunca vai roubar nada dele.
Não cobiçarás - Cobiçar é um
roubo mental. No seu coração você quer tirar do outro e ficar para você. Como
Deus vê o coração, cobiçar é gravíssimo para Ele.
... e se há qualquer outro mandamento ... Duas observações:
Obviamente Paulo não
está em dúvida, se havia ou não outros mandamentos.
Ele conhecia muito
bem as Escrituras. É apenas uma maneira de dizer que os outros não citados
também se cumprem com amor.
Também é claro que
Paulo estava tratando apenas com mandamentos de relacionamento com o próximo.
Não estavam em consideração os outros mandamentos de adoração a Deus.
tudo nessa palavra se resume: Amarás o teu próximo como a ti mesmo
É interessante que
essa valiosíssima frase, encontra-se num livro meio desprezado pelos crentes,
por ser associado com minúcias sacrificiais e, portanto, sem interesse prático.
Mas essa visão é errada. O livro é riquíssimo em conceitos.
A frase encontra-se
em Levítico 19.18.
É um verdadeiro
resumo de todos os mandamentos da Lei de Moisés sobre o relacionamento com os
semelhantes.
Uns 25 anos antes de
Paulo, outra pessoa já tinha se utilizado desse mesmo versículo, elevando-o à
categoria do 2o. grande mandamento da Lei, que resume absolutamente tudo o que
Deus espera de um homem quanto à maneira de se relacionar com o próximo. Esse homem
foi Jesus. O episódio encontra-se em:
Mateus 22.34-40
34 Entretanto, os
fariseus, sabendo que ele fizera calar os saduceus, reuniram-se em conselho.
35 E um
deles, intérprete da Lei, experimentando-o, lhe perguntou:
36 Mestre,
qual é o grande mandamento na Lei?
37 Respondeu-lhe
Jesus: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e
de todo o teu entendimento.
38 Este é
o grande e primeiro mandamento.
39 O
segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.
40 Destes
dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas.
Observe que os dois
mandamentos resumem-se num só verbo: amar!
No versículo 10: O amor não pratica o mal contra o próximo.
Parece uma frase tão
óbvia que não a tornamos digna da nossa maior atenção.
Aliás, o próprio
assunto do amor parece um tanto gasto e sem graça.
Mas não é sábio agir
assim. Além da alta importância que o próprio Deus coloca sobre a necessidade
de amarmos os semelhantes, lembre-se de que você deve amor a eles.
Só um irresponsável
não presta atenção a uma divida. Para não dizer caloteiro!
Quem é sério procura
pagar as duas dívidas ou no mínimo negociá-las de maneira ética e elegante com
o credor.
Pois o crente que
não liga para a necessidade de amar e não está levando isso muito a sério, é um
caloteiro!
Irmãos, vamos
prestar mais atenção a essa dívida que temos para com o nosso próximo.
Cada vez que você
faz um mal contra alguém, está deixando de amar.
Que mal? Qualquer
um, de qualquer tamanho, de qualquer gravidade.
Não precisa ser um
assalto a mão armada, um ferimento, um adultério, uma mentira.
Mas uma simples
grosseria é um mal. É anti-amor.
Uma calúnia, uma
fofoca, um desaforo, um desrespeito, um gesto de desprezo, um olhar cheio de
ira, uma expressão cínica, um fingir que não viu - cada item desse é um mal.
E se é mal, não é
amor.
Pense quantas vezes
você tem cometido faltas desse tipo, talvez diariamente.
Em cada falta, mais
dívida de amor para com o próximo.
O trecho é encerrado
praticamente com a repetição do final do versículo 8:
de sorte que o cumprimento da lei é o amor.
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