sábado, 22 de outubro de 2016

Rio Amazonas





   Sem Débitos, Exceto o Amor

                                                                                                                                             

Romanos 13.8-10 
8  A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, exceto o amor com que vos ameis uns aos outros; pois quem ama o próximo tem cumprido a lei.
9  Pois isto: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não cobiçarás, e, se há qualquer outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.
10 O amor não pratica o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor.


É interessante a mudança de assunto dos versículos? Sim!
No 7, Paulo exorta os crentes a pagarem o que devem: seja dinheiro (em forma de impostos e tributos), respeito ou honra.
Com a ideia de débito em mente, ele escreve a seguir:
a ninguém fiqueis devendo coisa alguma
E estabelece um valiosíssimo princípio de vida. Não deva! Não tenha pendências.
Quando se fala em débito, a primeira coisa que vem em mente é dinheiro.
Como se a ordem fosse: não fique devendo dinheiro a ninguém 

Antes de tudo, espero que fique bem claro.
Existe quem interprete essa ordem de maneira radical, como se o crente não pudesse pedir emprestado nunca e a ninguém. Tudo deve ser pago rigorosamente à vista.
Mas não é isso o que Paulo estava dizendo.
A rigor, todo mundo deve alguma coisa a alguém.
No dia seguinte que pagou o salário do empregado, o empregador já está devendo novamente um dia. A dívida vai acumulando até o próximo pagamento.
Se fosse levar ao pé da letra, todo final de dia o empregado deveria ser pago. Mas mesmo assim, ao meio dia do dia seguinte, o patrão já estaria devendo de novo, quatro horas de trabalho.
Você vai a um dentista, ele faz um orçamento e o serviço começa. Logo no primeiro dia, você já está devendo, mesmo que o serviço não esteja completo.
Situações assim, fogem da lógica.

Então, o que Paulo quer dizer é:
Que o crente não deve deixar de pagar os seus compromissos conforme combinado.
É como se Paulo tivesse dito: honre os seus compromissos não os deixe virar dívidas.
Se você contratou um empregado para pagamento semanal, pague toda semana. Se for mensal, pague todo mês.
Você pediu um empréstimo de R$1.000  para pagar em 10 prestações de R$100, no dia 20 de cada mês. Pois pague exatamente conforme combinado.
E se não conseguir, vá até o credor, explique a situação e combine uma forma de pagar.
Ao acertar uma nova data, a dívida desaparece e volta a ser compromisso.

Mas não é para evitarmos dever apenas dinheiro. Ele disse coisa alguma.
O que, por exemplo? Algumas sugestões, entre outras possíveis:

Acerto de pendências e diferenças
Você está arranhado com um irmão, mal consegue olhar para ele.
E sabe que, pela Escritura, o correto é marcar um encontro para acertar tudo. Pois marque!

Pedido de desculpas
Você ofendeu alguém. Sua consciência está lhe acusando.
Pois enquanto você não pedir perdão, você é um grande devedor.
E mais: se você ofendeu perante um grupo, peça perdão na frente do mesmo grupo.

Ajuda dentro das suas possibilidades
Alguém lhe pede ajuda ou mesmo sem pedir você sabe que ele está precisando.
Aí você coloca no seu coração vou ajudar. E ainda estabelece a maneira:
“No fim do mês, quando receber meu salário, vou dar R$50 para ele.”
Ou: “Vou tentar arranjar um emprego para ele, quando o fulano chegar de viagem.”
E nunca faz. Você se tornou um devedor.
Deus valoriza o cumprimento de coisas que colocamos no coração.

Cumprimento do que prometeu 
Este caso é um complemento do anterior. Você não só pensou em dar uma ajuda, como prometeu. Agora ficou dívida assumida.

E não é necessário que a promessa tenha sido de ajuda.
Pode ter sido um compromisso qualquer. Até um mero encontro, com hora marcada.
Se você não pôde ir, então deve satisfação. Enquanto não fizer isso, está em dívida.

Mas a regra de Paulo tinha uma exceção:
exceto o amor com que vos ameis uns aos outros
Aqui surge uma questão interessante.
À primeira vista, Paulo deveria ter dito o contrário: A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, especialmente o amor.
Mas o amor sai da lista e vira exceção. Como se dissesse: “O amor vocês podem dever”.

Não é bem assim. Novamente encontramos aqui a praticidade e objetividade de Paulo.
Não é que deveríamos ficar devendo amor aos outros.
Mas o fato é que sempre estaremos devendo.
Por mais que você pague amor, nunca saldará a dívida.
Aliás, pensar que está quite com essa dívida, é até perigoso. Pode pensar que já ama o próximo num nível aceitável, e nem se preocupar mais com isso.
Quando você quita uma dívida, não pensa mais nela. Tanto que é irritante receber cobrança de um pagamento feito.
Mas a pureza e a intensidade do amor que Deus espera de você, sempre estará muito além do amor que você consegue oferecer.
Nesta vida você nunca ouvirá de Deus a aprovação final: Estou satisfeito com a qualidade do amor que você tem dedicado aos semelhantes.

Exceção na raça humana: Cristo. Veja João 13.1
Embora se refira ao amor pelos discípulos dEle, mostra que o amor dEle é total, sem defeito.  Cristo não deve amor a ninguém. Ele ama de maneira plena.

Quanto a nós, sempre seremos devedores de amor.
Não somente quanto à qualidade do amor que você dedica aos que já ama, mas à quantidade de pessoas que você poderia amar e ainda não conseguiu.

pois quem ama o próximo tem cumprido a lei
Afirmação coerente com a ideia de que o amor é uma dívida que sempre teremos.
Nesta própria carta aos Romanos, Paulo já dissera que ninguém consegue cumprir a lei. A salvação não é pelo cumprimento da lei. Abraão não foi escolhido porque tinha mérito pessoal diante de Deus, mas pela graça.
Israel não foi escolhido por cumprimento de lei alguma, mas pela graça de Deus.
Não há quem faça o bem, nem um sequer.
Então o próprio fato de que quem ama tem cumprido a lei, já mostra que o amor ordenado por Deus não é alcançado, uma vez que a lei nunca será totalmente cumprida por homem algum (exceto Cristo).

Mas o tom não é de desânimo. Paulo nunca desanimou ninguém quanto ao cumprimento da lei, no seu aspecto moral e espiritual.
Nunca sugeriu que alguém deixasse de tentar cumprir a lei pelo fato de ser impossível. Todos devem tentar, mesmo sabendo que não conseguirão.
E não devem se desesperar, pois a salvação não vem daí.
Da mesma maneira, não devemos deixar de tentar amar.
A dívida impagável não deve nos desanimar. Vamos pelo menos amortizar o débito!

Aqui no versículo 9
Paulo vai provar que quem ama o próximo tem cumprido a lei.
Dos dez mandamentos das tábuas da lei, quatro se relacionam com a adoração a Deus e seis tratam do relacionamento com o próximo.
Desses seis, Paulo cita quatro, para mostrar que, na base de cada um está o amor.
 Não adulterarás – O adultério é falta de amor com os cônjuges traídos e com a própria pessoa com quem cometeu o adultério. Falta de amor com os filhos, e com outros.
Não matarás - A falta de amor é tão óbvia que dispensa comentário.
Não furtarás - Quem ama o outro nunca vai roubar nada dele.
Não cobiçarás - Cobiçar é um roubo mental. No seu coração você quer tirar do outro e ficar para você. Como Deus vê o coração, cobiçar é gravíssimo para Ele.

... e se há qualquer outro mandamento ...   Duas observações:
Obviamente Paulo não está em dúvida, se havia ou não outros mandamentos.
Ele conhecia muito bem as Escrituras. É apenas uma maneira de dizer que os outros não citados também se cumprem com amor.

Também é claro que Paulo estava tratando apenas com mandamentos de relacionamento com o próximo. Não estavam em consideração os outros mandamentos de adoração a Deus.

tudo nessa palavra se resume: Amarás o teu próximo como a ti mesmo
É interessante que essa valiosíssima frase, encontra-se num livro meio desprezado pelos crentes, por ser associado com minúcias sacrificiais e, portanto, sem interesse prático. Mas essa visão é errada. O livro é riquíssimo em conceitos.
A frase encontra-se em Levítico 19.18.
É um verdadeiro resumo de todos os mandamentos da Lei de Moisés sobre o relacionamento com os semelhantes.

Uns 25 anos antes de Paulo, outra pessoa já tinha se utilizado desse mesmo versículo, elevando-o à categoria do 2o. grande mandamento da Lei, que resume absolutamente tudo o que Deus espera de um homem quanto à maneira de se relacionar com o próximo. Esse homem foi Jesus. O episódio encontra-se em:

Mateus 22.34-40
34 Entretanto, os fariseus, sabendo que ele fizera calar os saduceus, reuniram-se em conselho.
35  E um deles, intérprete da Lei, experimentando-o, lhe perguntou:
36  Mestre, qual é o grande mandamento na Lei?
37  Respondeu-lhe Jesus: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento.
38  Este é o grande e primeiro mandamento.
39  O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.
40  Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas.

Observe que os dois mandamentos resumem-se num só verbo: amar!

No versículo 10:  O amor não pratica o mal contra o próximo. 
Parece uma frase tão óbvia que não a tornamos digna da nossa maior atenção.
Aliás, o próprio assunto do amor parece um tanto gasto e sem graça.
Mas não é sábio agir assim. Além da alta importância que o próprio Deus coloca sobre a necessidade de amarmos os semelhantes, lembre-se de que você deve amor a eles.

Só um irresponsável não presta atenção a uma divida. Para não dizer caloteiro!
Quem é sério procura pagar as duas dívidas ou no mínimo negociá-las de maneira ética e elegante com o credor.
Pois o crente que não liga para a necessidade de amar e não está levando isso muito a sério, é um caloteiro!

Irmãos, vamos prestar mais atenção a essa dívida que temos para com o nosso próximo.
Cada vez que você faz um mal contra alguém, está deixando de amar.
Que mal? Qualquer um, de qualquer tamanho, de qualquer gravidade.
Não precisa ser um assalto a mão armada, um ferimento, um adultério, uma mentira.
Mas uma simples grosseria é um mal. É anti-amor.
Uma calúnia, uma fofoca, um desaforo, um desrespeito, um gesto de desprezo, um olhar cheio de ira, uma expressão cínica, um fingir que não viu - cada item desse é um mal.
E se é mal, não é amor.
Pense quantas vezes você tem cometido faltas desse tipo, talvez diariamente.
Em cada falta, mais dívida de amor para com o próximo.

O trecho é encerrado praticamente com a repetição do final do versículo 8:
de sorte que o cumprimento da lei é o amor.

#mmsopensador



































Nenhum comentário:

Postar um comentário