XIX CONGRESSO NACIONAL DE LINGUÍSTICA E FILOLOGIA
Rio de Janeiro. Esta comunicação faz
parte de um projeto maior, relacionado à temática indígena da capitania da
Bahia do século XVIII, cujo objetivo é fazer a edição diplomática de
manuscritos pertencentes ao Arquivo Histórico Ultramarino (AHU). O corpus de
análise para este trabalho é constituído por documentos que fazem parte do
acervo do Arquivo Histórico Ultramarino, em Lisboa. Por volta do aniversário
dos 500 anos de Brasil, o Arquivo Histórico Ultramarino disponibilizou
documentos históricos referentes à História do Brasil Colonial em arquivos de
diversos países europeus e, em especial, de Portugal, microfilmados e
transpostos em CD-ROM, veiculados pelo Projeto Resgate de Documentação
Histórica Barão do Rio Branco (ou Projeto Resgate). Várias instituições
brasileiras foram contempladas com parte desse valioso acervo digital. Desses
documentos disponíveis, elegeram-se vinte e dois para serem editados
diplomaticamente, a fim de facilitar a sua leitura, considerando-se a
importância do século XVIII para a história do Brasil, em especial a da Bahia.
Valendo-se da cópia microfilmada e da edição diplomática desses documentos,
este trabalho tem por objetivo apresentar algumas considerações sobre as
abreviaturas presentes na documentação editada, em busca de informações sobre a
escrita no Brasil no período em que o texto foi escrito, para se compreenderam
as possíveis relações socioeconômicas, culturais, linguísticas e históricas do
Brasil-Colônia, e contribuindo, assim, para um melhor entendimento da
configuração da escrita, do período supracitado, no chamado português
brasileiro. Palavras-chave: Abreviatura. Século XVIII. Bahia. Diplomática. É
possível se observar hoje nas redes sociais um uso recorrente de termos
abreviados, o “internetês”11, um novo tipo de linguagem que tem como principal
objetivo ganhar tempo e conversar com o maior número de pessoas possível. Marconato
(2006, p. 22) classifica o “internetês” como “um conjunto de abreviações de
sílabas e simplificações de palavras que leva em conta a pronúncia e a
eliminação de acentos”, como se pode verificar no Quadro abaixo: 11 Observa-se
que o termo já figura como subtema em alguns dicionários brasileiro de
referência, a exemplo de Sacconi, 2011. Círculo Fluminense de Estudos
Filológicos e Linguísticos 62 Cadernos do CNLF, Vol. XIX, Nº 05 – Ecdótica,
crítica textual e crítica genética. INTERNETÊS CORRESPONDÊNCIA NA NORMA PADRÃO
vc, VS Você Xau Tchau Kbça Cabeça ñ, naum Não Hj Hoje Aki Aqui Fmz Firmeza Abç
Abraço Eh É Bj Beijo 9da10 Novidade Flw Falou Quadro 1 – Internetês e a
correspondência na norma padrão. Curioso é perceber que essas abreviaturas
parecem ser motivadas extremamente nos dias atuais. Para os jovens, acostumados
com essa linguagem, o mais importante quando se está conversando virtualmente é
se fazer entender e, mais do que isso, da maneira mais rápida. No obstante a
realidade de hoje, é relevante perceber que as abreviaturas foram importantes
em vários períodos da humanidade. Na Roma antiga, por exemplo, um escravo
liberto que pertencia a Cícero, de nome Tiro, anotava seus discursos através de
sinais, notas tironianas (ou taquigráficas), usadas desde o Império Romano até
o século X (cf. BERWANGER & FRANKLIN, 1995, p. 64). Nesse período, como o
costume era transcrever os discursos orais em tempo real, usava-se uma escrita
desenvolvida com o objetivo de ser tão rápida quanto à fala. Nota-se que no período
em foco o uso de abreviaturas era recorrente, quer pelo custo elevado de
material de escrita, da tinta e do suporte, quer pela necessidade de registrar
com rapidez os discursos proferidos oralmente. Na Idade Média a situação não
era muito diferente. Os livros eram escritos por copistas, à mão, e a escrita
precisava ser reduzida. Essa redução era feita através de símbolos, sinais e
abreviaturas no lugar dos vocábulos. Era um trabalho cansativo, mas o principal
objetivo era de ordem econômica uma vez que a tinta e o papel eram caríssimos.
O preço de um Código Penal, por exemplo, segundo Silva Neto, chegava a custar
17 bois, ou 50 porcos, ou 200 carneiros, por volta do século XVIII. XIX
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Para Flexor (2008, p. XI), a proliferação das abreviaturas se explica por dois
motivos: ocupar menos espaço, devido à raridade e consequente alto custo do
material utilizado para a escrita, e economizar tempo escrevendo mais depressa.
Spina (1994, p. 49-50), salienta que em fins da República romana esse uso
excessivo desencadeou medidas que condicionavam o uso de abreviaturas, embora
não surtindo efeito. Entretanto, durante o Renascimento, com a utilização da
letra cursiva o uso exagerando diminuiu, mas “o hábito das abreviaturas
continuou, a ponto de, para as obras jurídicas, serem até publicadas tábuas
especiais para a leitura das siglas”. Tomando como ponto de partida a proposta
de Cruz (1987, p. 81- 101), as abreviaturas podem ser classificadas, segundo a
natureza do sinal abreviativo, em: a) Abreviatura por sinal geral; b)
Abreviatura por sinal especial; c) Abreviatura por letra sobreposta. O corpus
de análise para este trabalho é constituído por documentos que fazem parte do
acervo do AHU, em Lisboa. Por volta do aniversário dos 500 anos de Brasil, o
AHU disponibilizou documentos históricos referentes à História do Brasil
Colonial em arquivos de diversos países europeus e, em especial, de Portugal,
microfilmados e transpostos em CD-ROM, veiculados pelo Projeto Resgate de
Documentação Histórica Barão do Rio Branco (ou Projeto Resgate). Várias
instituições brasileiras foram contempladas com parte desse valioso acervo
digital. Desses documentos disponíveis, elegeram-se vinte e dois para serem editados
diplomaticamente, a fim de facilitar a sua leitura, considerando-se a
importância do século XVIII para a história do Brasil, em especial a da Bahia.
Valendo-se da cópia microfilmada e da edição diplomática desses documentos,
este trabalho apresenta algumas considerações sobre as abreviaturas presentes
na documentação editada, em busca de informações sobre a escrita no Brasil no
período em que o texto foi escrito, para se compreenderam as possíveis relações
socioeconômicas, culturais, linguísticas e históricas do Brasil colônia e
contribuindo, assim, para um melhor entendimento da configuração da escrita, do
período supracitado, no chamado português brasileiro. Círculo Fluminense de
Estudos Filológicos e Linguísticos 64 Cadernos do CNLF, Vol. XIX, Nº 05 –
Ecdótica, crítica textual e crítica genética. Os documentos editados
apresentam, não tão abundantemente, uma lista de abreviaturas, conforme sua
classificação, como mostram as imagens a seguir. a) Supressão de elementos
finais da palavra (apócope): b) Sigla, conforme Spina (1994, p. 50), “o
processo mais antigo de abreviação por suspensão ou apócope, e seu uso, se
manteve durante toda a Idade Média”. Consiste na representação da palavra pela
letra inicial maiúscula, seguida de ponto. Segundo Flexor (1990: XII), podem
ser de três tipos: siglas simples, quando indicadas apenas por uma letra;
siglas reduplicadas, quando a letra é repetida para significar o plural das
palavras representadas; siglas compostas, formada por duas ou três primeiras
letras da palavra ou pelas letras predominantes no vocábulo: c) Contração ou
síncope, ou seja, supressão das letras no meio do vocábulo: d) Letras
sobrescritas: sobreposição da última ou das últimas letras da palavra: XIX
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e) Abreviaturas numéricas: constituem as abreviaturas de numerações,
designativas de ordem, divisão e meses do ano: Mesmo para quem tem o hábito de
leitura de textos antigos, muitas vezes torna-se difícil interpretar as abreviaturas
existentes num dado texto em função de não se conhecer a idiossincrasia
ortográfica do escriba. Autores como Megale e Toledo acreditam que o
desenvolvimento das abreviaturas deve obedecer aos seguintes critérios:
“respeitar, sempre que possível, a grafia do manuscrito”, evitando-se, dessa
maneira, intervenções da língua do editor sobre a língua do texto, e “no caso
de variação no próprio manuscrito ou em coetâneos, a opção será para a forma
atual ou mais próxima da atual”. (MEGALE & TOLEDO NETO, 2006, p. 147) Como
visto, as abreviaturas são utilizadas desde a antiguidade, passando pela Idade
Média e, com o advento da tecnologia, embora se pudesse aventurar a
possibilidade do seu desuso, novas condições sociais e econômicas ampliam ainda
mais sua utilização, expandindo-se com rapidez e muitas dessas inovações já
fazem parte da linguagem escrita nos dias atuais. Veja-se que este trabalho,
como convém metodologicamente, faz uma lista de abreviaturas. As reflexões
apontadas acima mostram que as abreviaturas, tema bastante relevante, sobretudo
para quem trabalha com edições de manuscritos de textos antigos, são de grande
importância no processo de escrita desses textos e continuam marcando seu
espaço na atualidade, a exemplo das inovações promovidas pela linguagem da
internet. Vale ressaltar que uma boa leitura filológica se faz mediante um
conhecimento preciso do sistema braquigráfico. Em virtude dessa importância,
foi feito um glossário de todas as abreviaturas encontradas na documentação
editada, conforme listagem a seguir.
Irmão messias
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