terça-feira, 6 de outubro de 2015




            A GESTA DAS MATRIARCAS EM ISRAEL

Ao escolher para tema de ensaio Israel no tempo dos Patriarcas, do chamado Mundo Pré-clássico, tinha em vista debruçar-me sobre a ação das suas respectivas mulheres: Sara, Rebeca e Raquel. Sempre me fascinou a leitura dessas narrativas e chegava sempre à mesma conclusão: estes patriarcas são muito pouco patriarcais. As suas mulheres é que decidem e lhes indicam o que devem fazer. Não seria mais adequado chamar também, a esse tempo, o tempo das matriarcas?

Tentarei mostrar o papel fundamental das mulheres – destas mulheres – nas “narrativas de origem” do Povo de Israel: o Tempo da Promessa. Antes, porém, convém apontar os conceitos de História e de Teologia narrativa, como pressupostos de leitura.

PRESSUPOSTOS
As Escrituras na Bíblia, nomeadamente, no Pentateuco – conjunto dos primeiros cinco livros: Génesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio – oferece um quadro de história completamente delineado pela fé e, por isso, de índole confessional.

O modo como a fé entende os acontecimentos históricos tem características próprias: uma grande parte destas tradições de Israel devem ser consideradas poesias, sendo, assim, produto de uma clara intenção artística. No entanto, para os povos antigos, a poesia é muito mais do que um simples jogo estético: é a expressão de um desejo insaciável de conhecer os acontecimentos históricos e naturais do mundo circundante. Só a poesia se prestava a falar das experiências da história do povo de forma a atualizar, plenamente, o seu passado.
Até ao séc. VI a.C., não se podia prescindir da poesia na concepção de história. A fé (não só a fé de Israel) precisa dela porque, nestes materiais da tradição, não é possível desligar o acontecimento histórico da interpretação teológica que os atravessa em todos os sentidos.
No caso de Israel, este tipo de narrações tem uma relação indireta com a realidade histórica, tendo, no entanto, um contato muito imediato com as verdades da fé israelita. Os acontecimentos para a salvação eram atuais em todas e para todas as gerações futuras com uma atualidade indiscutível que, hoje, é difícil explicar com exatidão.
Como disse Georg Fohrer, «o Antigo Testamento não procura apresentar objetivamente a história, pois os fatos históricos como tais representariam apenas insignificantes abstrações para os israelitas. Tais relatos constituem muito mais o fundamento de uma interpretação religiosa e teológica, ligando-se a ela. O fato histórico e a sua interpretação estão indissoluvelmente ligados e dependentes entre si.
Na realidade, a história não é narrada por si mesma, mas pela interpretação religiosa e teológica do relato».
É histórico determinado evento que se torna problemático concretizar e se encontra na obscura origem da tradição respectiva. Porém, também é histórica a experiência de que YHWH transforma a maldição do inimigo em bênção e mantém a sua promessa apesar das faltas do destinatário.
Como também disse W. Dilthey, «a poesia não é a cópia de uma realidade preexistente...; a arte é uma força capaz de produzir um conteúdo que transcende a realidade e não pode traduzir-se em ideias abstratas; é um poder que cria uma nova visão do mundo».
Posto isto, constatamos a dificuldade em distinguir, através dos conceitos atuais de história e de teologia, onde termina uma e começa a outra. Pelo contrário, estão de tal maneira entretecidas que, facilmente, tomamos uma pela outra

A meu ver, o importante é ter sempre presente, ou que estamos perante um tecido feito com fios de história e com fios de teologia.
Nestas narrativas – Gênesis 12-35 – podemos ler as origens de um povo e da sua fé. A história deste povo é inaugurada com um homem que acredita, assim como a sua família, no Deus que aceita ser chamado “seu Deus” e que permanecerá o “Deus de Abraão”, mesmo quando a sociedade e o pensamento de Israel se encontrarem já muito afastados destas imagens arcaicas.
Portanto, ainda hoje, somos convidados a ler, nestes começos inacessíveis, a nossa própria origem, o início do devir para todos os que se põem a caminho porque ouvem um apelo de Deus. É por isso que só um leitor que se sinta implicado nestas narrativas é capaz de atingir o seu verdadeiro sentido.

TEMPO DA PROMESSA: Gênesis 12-25.
Uma terra, uma aliança, uma posteridade

Hoje em dia, os exegetas situam a redação destes capítulos das Escrituras na Bíblia, bastante tardiamente, por volta dos séc
s. VI e V a.C.. Pelo seu contexto literário e pela sua configuração, consideram-na posterior à historiografia deuteronomista.
Como já foi esboçada, em termos de narrativa bíblica, a origem do povo de Israel assenta na “história” de um homem – Abraão – que obedece à ordem de Deus (YHWH) para sair da sua terra, pois acredita que a Promessa feita no seguimento dessa ordem será cumprida:
- promessa de paternidade de um povo (12,2)
- promessa de uma nova relação com Deus (aliança/bênção: 12,3)
- promessa de uma terra dada à sua descendência (12,7).
Esta Promessa tridimensional é o arcabouço que suporta e unifica todo o material da tradição reunido nestas grandes composições narrativas.
A Promessa faz da época dita patriarcal a instituição destinada a preparar, cuidadosamente, o nascimento e a vida do povo de Deus.
Vejamos como fica isto em Israel.
Vamos, então, tentar ver como as suas mulheres amadas assumiram a fé na Promessa.

Para tal, seguirei a sequência dos capítulos 12-35: Sara/Abraão, Rebeca/Isaac e Raquel/Jacó.        (Israel).

A. SARA, Gênesis 12-23

Sara é apresentada como uma mulher muito bonita e Abraão tem consciência disso, o que o leva, por duas vezes (12, 11-13; 20, 1-13), a pedir-lhe que se faça passar por sua irmã. E isto porque teme pela sua vida, sabendo os outros que era sua mulher. Sara aceita, sem reservas, ser a garantia da sobrevivência do seu marido.
Estará ela de tal maneira possuída pela fé na Promessa que não hesita em ser o escudo do eleito de Deus?
O certo é que não só lhe salvou a vida como foi causa do seu enriquecimento material, podendo, assim, voltar para a terra que Deus lhe indicara (12; 16. e 20; 14).
A fé de Abraão não visa o seu presente, mas uma realidade futura. No entanto, para que haja futuro, é imprescindível que algo aconteça já. Algo que demora a chegar: um filho.

Sara é estéril e Abraão nada faz senão questionar (YHWH) Deus (15, 2, 5) e esperar.
É ela que toma a iniciativa de “apressar” o cumprimento da promessa de uma descendência: Vê, eu te peço: (YHWH) Deus não permitiu que eu desse à luz. Toma, pois, a minha serva. Talvez, por ela, eu venha a ter filhos. E Abraão ouviu a voz de Sara (16, 1-4).
Perante a sobranceria da serva grávida, Sara sente-se humilhada, acusa o marido pela injúria de que é alvo e convoca Deus (YHWH) como juiz entre eles (16,5). Abraão dá-lhe liberdade absoluta para fazer o que bem entender. Sara de mais nada precisa: maltrata a serva a ponto de a “obrigar” a fugir (16, 6), embora regresse mais tarde.
Entretanto, Deus (YHWH) reforça a Promessa, a promessa de fazer de Abraão o pai de uma multidão, o destinatário da aliança e da sua descendência o possuidor da terra que habita (17, 1-14). Sara é envolvida, explicitamente, neste reforço. Deus (YHWH) muda-lhe o nome – como já tinha feito a Abraão (17, 5) – pois chamava-se Sarai. Abençoa-a e renova, mais uma vez, a Promessa a partir dela: dela te darei um filho... ela se tornará nações... dela sairão reis e povos (17; 15,16).

Este envolvimento só podia provocar riso, pois Deus (YHWH) estava a revelar-se como um Deus cheio de humor: um homem velho, uma mulher velha, conceberem? Só podia ser brincadeira. 
Aliás, Sara tem a mesma reação quando se apercebe, também, como alvo de eleição, como destinatária e veículo da Promessa. Desta vez, para cúmulo, o seu cumprimento não é apresentado num futuro indeterminado, mas em data marcada: no próximo ano (18; 9,15).
Brincadeira à parte, a promessa cumpriu-se no tempo previsto: Deus (YHWH) visitou Sara, como dissera, e fez por ela como prometera. Sara concebeu e deu à luz um filho a Abraão já velho, no tempo que Deus tinha marcado... Isaac (21; 1,3).
Ao ver crescer seu filho juntamente com o da sua serva, novos receios a invadem. Serão os dois herdeiros da Promessa? Mas só ela e não a serva foi abençoada e escolhida para dar início à sua realização. Não pode ficar de braços cruzados. Vê, apenas, uma solução: expulsar a serva com o filho.
Em Sara, a ação acompanhava sempre o pensamento e isto mesmo pediu a Abraão que ficou muito infeliz (21, 8-11). Deus (YHWH), no entanto, tranquilizou-o, pois o que parecia, à primeira vista, uma desgraça não o era.

Sara tinha razão. Ele não tinha mais do que fazer tudo o que ela lhe pedisse porque ela via para além dos acontecimentos (21; 12,14).
Sara volta a ser referida por ocasião da sua morte (23, 1, 2, 19) e uma última vez, depois de Isaac ter amado Rebeca. Este amor consolou-o da morte de sua mãe (24; 67).
Não há dúvida que os narradores destes textos não estão interessados na fé de Sara, mas tão só na de Abraão (por exemplo, em Gênesis 22 – um texto fundamental para provar a fé de Abraão – Sara não é tida nem achada).
Porém, o seu marido reconhece a autoridade dela sobre a situação em várias ocasiões como foi apontado.

REBECA Gênesis 24-28
Embora Isaac seja o herdeiro das grandes promessas de Deus a Abraão e à sua posteridade (17,91-21), a sua história é breve e parca de acontecimentos exteriores. Podemos, pois, considerá-lo como “figura de transição” a quem pertence a responsabilidade de transmitir a Promessa.

Uma leitura apressada da brevíssima descrição a seu respeito pode levar a pensar que se trata de uma personalidade passiva, visto que foram sempre os outros a decidir no que lhe diz respeito (sacrifício, pedido de casamento, engano na transmissão da bênção...). Esta conclusão é, também, facilitada pela personalidade enérgica da sua mulher, Rebeca.
De fato, Rebeca é a atriz principal desde o primeiro momento. Mesmo antes de ser conhecida, na preparação do plano de casamento de Isaac, é-lhe atribuído o poder de decisão de abandonar ou não a casa de seu pai (24, 5-8. 39-41), enquanto ele é esquecido completamente: ninguém se preocupa em saber o que pensa ou o que pretende.
Depois de ser reconhecida como a “indicada” por Deus (24, 11-21. 42-48), toma a iniciativa de providenciar pousada em sua casa, sem saber de quem se trata (24, 23-27).
Perante o motivo que trouxera aquele estranho, o “chefe de família”, irmão de Rebeca, aceita o pedido de casamento, mas reclama um tempo de espera. Face à urgência do regresso e, consequentemente, à recusa desse tempo de espera, remetem para ela a decisão final. Rebeca não hesita em partir imediatamente e ninguém interfere (24, 56-61).

Para além da capacidade de iniciativa, de ação, Rebeca tinha mais duas marcas que a tornam muito semelhante a Sara: era muito bonita e estéril.
A beleza levou-a a sentir na pele a mesma experiência de Sara: passou por irmã de seu marido, pelas mesmas razões, que também assumiu pessoalmente, e com as mesmas consequências (26, 7-13).
Na esterilidade não teve de recorrer às escravas porque Isaac implorou por ela a Deus (YHWH) e foi ouvido. Rebeca ficou grávida (25, 20-21).
Porém, a sua gravidez não foi normal. Sentia algo estranho dentro dela que, num primeiro momento, a levou a desejar a morte (25, 22a). Mas depressa ultrapassa a angústia e virou-se para Deus (YHWH), consultando-o (25, 22b). Uma vez mais Deus (YHWH) atendeu e mostrou-lhe o que estava a acontecer. Revelou-lhe os seus insondáveis desígnios, o que ela assumiu sem reservas: Isaac preferia Esaú (o primeiro)... mas Rebeca preferia Jacó (25, 23-28).
Ao sentir a morte a aproximar-se, Isaac chamou Isaú, seu filho mais velho, e pediu-lhe uma boa refeição com o produto da caça para, em seguida, o abençoar.

Rebeca sempre atenta, sempre no lugar certo e na hora oportuna, ouviu as intenções de seu marido (27, 1-5).
As “revelações” que recebera durante a gravidez nunca tinham caído no esquecimento e, agora, ganharam sentido. Chegara o momento de perceber que o seu cumprimento passava por ela. Não perde tempo. Chama, imediatamente, Jacob, conta-lhe as intenções do pai e traça um plano de ação para que este se antecipe ao seu irmão a fim de receber a bênção que lhe estava destinada (27, 6-10).
Perante os receios de Jacob, a mãe assume, pessoalmente, todas as maldições, no caso de existirem, e executam o plano traçado (27,11-71).
Tudo correu como o previsto e Isaac, apesar da emoção forte, não mostrou grande pesar ao constatar o engano: o que fiz está feito, não posso voltar atrás (27, 30-40).
Não aconteceu o mesmo com o irmão que procurou vingar-se. Ao saber disto, Rebeca toma, de novo, o comando da situação, planeando a fuga com o estratagema do casamento (27, 41).
Isaac não descobre os verdadeiros receios de sua mulher e aceita, plenamente, a sua versão, dando ordens a Jacó nessa mesma linha, tal como Rebeca esperava, isto é, a mãe transforma a fuga de Jacó em cumprimento da ordem de seu pai (28; 1, 5).
Rebeca termina, assim, as suas funções de matriarca, obtendo a bênção para o seu preferido e salvando-lhe a vida, garantindo que a Promessa feita a Abraão se perpetuasse.

RAQUEL Gênesis 29; 35.
A vida de Jacó poderia, facilmente, ser incluída no género literário “Aventura”. Tem de fugir à ameaça de vingança do seu irmão Esaú; compromete-se a trabalhar sete anos para poder casar com a jovem amada (Raquel); é enganado pelo sogro que lhe dá a mais velha e, para não renunciar à desejada, terá de trabalhar mais sete anos; luta com Deus e, finalmente, regressa à sua terra através de nova fuga. É uma “história” de fraudes, mas também a do homem que se sente protegido por Deus (28; 10) e que, por sua vez, se ocupa de Deus, lutando com Ele para ser abençoado. Luta que o ligou de tal modo e para sempre, a Deus, a si próprio e ao povo a quem deu o nome que Deus lhe dera: Israel (32; 22).

Apesar de tudo isto ou por causa de tudo isto, percebe-se que estamos perante um homem profundamente crente, cuja oração é de grande valor teológico, que nunca tinha sido atingido. Além do valor teológico, esta oração é como que o ponto aglutinador das “histórias” dos três patriarcas: Abraão, Isac e Jacó (32, 01-13) (10).
Raquel é a sua amada por excelência, desde a primeira hora. No entanto, tem de pagar um alto preço para fazer dela sua mulher: é ludibriado e obrigado a dobrar o tempo de contrato (29, 18-30).
Como as suas “antecessoras”, é estéril. A sua estratégia é semelhante à de Sara, começando por dar a sua serva a Jacó para deles obter filhos (30, 1-8), passando pelo ato de pagar a sua irmã Lia para conceber mais um filho em seu nome (30, 14-15). Por fim, Deus (YHWH) lembrou-se de Raquel: ele ouviu-a e tornou-a fecunda. Deu à luz José por meio do qual dizia: Deus retirou a minha vergonha... e que Deus (YHWH) me dê outro (30, 22-24).
Quando Jacó percebe que é alvo de invejas e ódios, decide fugir, depois de ouvir o Anjo de Deus (31, 11-12) e confia o seu plano a Raquel e Lia que o assumem, porque percebem que está de acordo com a Promessa de Deus (YHWH) (31, 1-18). 

Raquel, porém, antes de sair de casa de seu pai, rouba-lhe os “deuses domésticos”. Embora o texto bíblico seja muito lacónico, a literatura rabínica é vasta na interpretação deste episódio.
São cinco os versículos que relatam o sucedido: Raquel roubou os ídolos domésticos que pertenciam ao seu pai (31, 19); Labão pergunta a Jacó, por que roubaste os meus deuses? (31, 30); Jacó ignorava que Raquel os tivesse roubado (31, 32); Raquel tomara os ídolos domésticos, pusera-os na sela do camelo e sentara-se por cima (31, 34); Labão procurou e não encontrou os ídolos (31, 35).
Inclino-me para a interpretação, segundo a qual, Raquel já tinha percebido que não tinham valor perante Deus (YHWH), o “Deus dos pais” de Jacó e, por isso, quis ajudar Labão a desligar-se da idolatria, da feitiçaria e da magia. Quando aceita a saída da sua terra tem consciência que estão a obedecer à ordem de Deus (YHWH) (31, 16).
Por outro lado, também faz sentido, para mim, que Raquel, mais audaciosa que Lia, roubasse o que lhe pertencia por direito – mesmo já não tendo valor religioso – dado que seu pai as tratava como estrangeiras (31, 15) e os terá fim deviam ser transmitidos ao herdeiro, segundo o costume.
Seja qual for a interpretação, não há dúvida que se trata de um gesto arrojado e consciente.
Raquel é referida pela última vez no momento em que, simultaneamente, dá à luz o seu segundo filho e morre (35, 16-20).

GESTÃO DAS MATRIARCAS?

Se as Matriarcas souberam tornar-se disponíveis, vigilantes, à voz de Deus que apela à ruptura, então, a Promessa, longe de ser apanágio dos homens, sob o cuidado e o dever, exclusivamente, masculinos, está ligada, em cada etapa da sua realização, à sublimidade do casal humano, à esperança da santidade de ambos.
Graças às suas Matriarcas, Israel chega a ser um povo numeroso e abençoado. Sara assegura a herança de Isac em face à ameaça de Ismael. Rebeca torna possível que Jacó obtenha a bênção. Raquel, rivalizando com Lia para darem filhos a Jacó, edifica a casa de Israel.

Para além de todas elas serem as esposas amadas e mulheres ativas que assumem a condução da família, muitas vezes sobrepondo-se aos maridos, têm ainda uma outra característica comum: são estéreis.
Nas narrativas de origem é fundamental que a fecundidade esteja ligada à divindade. Os descendentes, os destinatários da Promessa, não podem ser engendrados pela simples vontade humana. É necessária a ação direta de Deus. Ora, é preciso que a mulher seja reconhecida como estéril – uma vida a tentar conceber – para se perceber, existencialmente, que só o poder divino seria capaz de fazer nascer o filho da Promessa.
Sara morreu de velhice; da morte de Rebeca nada é dito; a morte de Raquel não poderá ligar-se à esperança de uma unificação dos filhos de Jacob/Israel, visto que aconteceu, precisamente, no parto do décimo segundo filho, completando, assim, as doze tribos de Israel?

Conclusão
A gesta patriarcal/matriarcal conta os caminhos imprevisíveis e desconcertantes dos antigos com a sua parte de sombra e luz. É feita de tudo o que pode acontecer entre o nascimento e a morte: amores, casamentos, invejas e ódios entre irmãos, fraudes...
Se estas narrativas falam aos crentes não é, apenas, por causa da humanidade que os habita. No conjunto formado pelo Pentateuco, têm a originalidade de pôr em cena personagens singulares e de contar experiências individuais de crentes, homens e mulheres. Sara/Abraão, Rebeca/Isaac e Raquel/Jacob(Israel) vivem experiências humanas e religiosas que podem servir de referência a cada um dos crentes. Por isso, as suas vidas, como objeto de escrita, surgem numa época bastante tardia e como narrativas são remetidas para a origem de um Povo que nasce da fé sem Lei, (embora se organize como povo a partir da lei sinaítica); de um Povo que, antes de ter uma lei, se apoia em Deus (YHWH). Em hebraico, crer, ter fé, significa apoiar-se, fiar-se.



Irmão messias





                                             

Nenhum comentário:

Postar um comentário