Quitação Antecipada da Dívida Com FMI
A quitação antecipada da dívida de 15 bilhões e meio de
dólares com o Fundo Monetário Internacional anunciada pelo presidente Lula no
início da semana causou polêmica.
A principal crítica da oposição é que o governo decidiu
zerar a dívida justamente com o credor que cobrava as taxas de juros mais
baixas. Mas isso não afetou os governistas, que aplaudiram a iniciativa do
presidente. Segundo Lula, o Brasil virou uma página histórica.
" Ao devolvermos ao FMI o dinheiro que estava à
disposição do Brasil por conta da crise de 2001 e 2002, estamos provando entre
outras coisas, que não dependemos mais de empréstimos externos para continuar
crescendo. Podemos fazê-lo com nossos próprios recursos. Isso significa
independência e desenvolvimento."
O deputado Francisco Dornelles, do PP fluminense,
partido da base governista, concorda que o pagamento antecipado da dívida vai
favorecer o crescimento econômico.
"Quitando a dívida com o FMI o governo brasileiro
faz uma economia de 900 milhões de dólares por ano. Eram os juros. Na medida em
que faz essa economia, ele tem mais folga, ele pode ter um déficit operacional,
um déficit nominal menor, ou pode não ter necessidade de fazer um superávit
primário tão grande, pode aumentar o nível de investimento e promover mais o
desenvolvimento do País."
Carlos Abicalil, do PT de Mato Grosso, disse que Lula
honrou um compromisso de campanha. Para o deputado, a quitação da dívida, além
de afirmar a soberania do País, revela o controle financeiro da economia.
Carlos Abicalil afirmou que o brasileiro pode ter a
honra de dizer que o Brasil está reduzindo sua dívida em moeda estrangeira. Até
o final do ano, Abicalil estima que a dívida em dólar vai cair dos atuais 26%
do valor total para apenas 3%. O deputado avalia que o pagamento da dívida com
o FMI significa valorizar a moeda, que é um símbolo nacional.
"Para nós é absolutamente salutar. Nos fortalece no
cenário internacional, afirma a credibilidade brasileira diante de investidores
e autoridades econômicas do resto do mundo e, a o mesmo tempo, contribui e
muito para a afirmação do Mercosul na disputa rígida com os mercados mais
poderosos do mundo."
Já a oposição bateu forte. Segundo o vice-líder do PFL,
Pauderney Avelino, o presidente Lula zerou a dívida com o FMI de olho nas eleições.
"Eu acho que é uma medida popularesca, populista. O
presidente da República poderia ter utilizado esses recursos para reduzir ainda
mais os juros, para fazer algumas ações aqui."
E o líder do PSDB, Alberto Goldman, não viu nada de
especial na medida adotada por Lula.
"O governo Fernando Henrique fez isso com a dívida
interna, quando recebeu o dinheiro das privatizações. Ele diminuiu a dívida
interna, com recursos da privatização. Portanto, nada de excepcional, um
trabalho corriqueiro de governo."
Professor da Universidade de Brasília, o economista
Roberto Piscitelli acredita que a quitação da dívida tem um componente de
natureza psicológica, ligado à autoafirmação do País. Piscitelli ressalta que,
do ponto de vista estritamente financeiro, o Brasil fez um mau negócio. Os
juros da dívida com o FMI eram da ordem de 4% ano ano. Para antecipar o
pagamento, o País captou recursos externos em 2005 a taxas mais elevadas, com
títulos lançados a taxas que chegam a 12,75% ao ano. Ou seja, três vezes mais
altas.
"É uma coisa paradoxal, porque, claro que a
situação financeira de uma pessoa, de um indivíduo não é a mesma de um país.
Mas todas as vezes que, em termos de finanças pessoais, nos perguntam o que
fazer, como administrar as dívidas, o que a gente recomenda às pessoas, pelo
menos é uma questão de racionalidade, é: troque as dívidas mais onerosas por
dívidas menos onerosas. Então, parece que não foi um negócio tão bom
assim."
O professor também identifica um componente
político-eleitoral na medida do governo. Piscitelli acredita que a quitação da
dívida vai permear o debate eleitoral este ano e por isso, o caráter da dívida
precisa ser desmistificado. Na opinião dele, o governo tomou uma medida
precipitada, desnecessária e desvantajosa para o País.
Irmão messias
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